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O Brasil parece fadado a conviver, ao menos no curto prazo, com a piora de suas contas externas. A deterioração já esboçada nos últimos meses encontra agora as incertezas sobre a liquidez mundial detonadas pela sinalização do Federal Reserve de fim dos estímulos monetários. Ainda que vários analistas ponderem que a atual turbulência sobre os emergentes é passageira, eles também concordam que não há mais tanta tranquilidade sobre o financiamento do déficit nas transações correntes.
 
A turbulência dos mercados é, nesse sentido, um novo – e talvez passageiro – ingrediente em uma receita que já contava com desaceleração da China, preços mais baixos de commodities e frustração com o crescimento doméstico.
 
Em 12 meses até maio, o saldo negativo em conta corrente – que engloba comércio, serviços, transferências de renda e transferências unilaterais – alcançou 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior percentual desde julho de 2000. Em cifras, o déficit no período foi de US$ 72,972 bilhões, enquanto os investimentos estrangeiros diretos (IED) ficaram em US$ 64,221 bilhões e as aplicações externas em renda fixa e ações, outro canal importante de financiamento, somaram pouco mais de US$ 15 bilhões liquidamente.
 
“Não há dúvida de que mudou o quadro de financiamento [das contas externas]. Resta ver quanto desse processo tem ligação com o quadro externo, diante dos sinais de Ben Bernanke [presidente do Fed], e quanto vem de um desequílibrio nosso mesmo”, afirma o ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda Júlio Gomes de Almeida.
 
“A curto prazo a questão externa é muito forte e é natural que o capital fique mais encolhido, mas não haverá uma saída definitiva de recursos de emergentes. O que vemos agora é mais um rearranjo de portfólios para um novo cenário de preços. Tem muito de um processo especulativo”, avalia. “Já no médio prazo, será importante o país mostrar que tem ativos interessantes para o investidor externo que podem melhorar o campo das expectativas e, nesse sentido, temos dois trunfos: leilão de campos do pré-sal e concessões públicas.”
 
Nos últimos anos, o IED vinha financiando o déficit em transações correntes e, mais importante, dando qualidade a esse financiamento por envolver recursos de prazo mais longo. Mais recentemente, no entanto, os investimentos em carteira ganharam fôlego, mas são mais suscetíveis aos humores do mercado.
 
Ao revisar suas projeções para o ano, o próprio BC ampliou a estimativa de ingresso de dólares para aplicações em renda fixa no país de US$ 5 bilhões para US$ 12 bilhões, enquanto a de IED foi mantida em US$ 65 bilhões. O déficit em transações correntes esperado agora é mais forte, passando de US$ 67 bilhões para US$ 75 bilhões. Se confirmadas as projeções, o IED cobrirá 86,7% do déficit e será a primeira vez em 12 anos que essa relação ficará abaixo dos 100%.
 
“Não é uma situação de crise de balanço de pagamentos porque temos câmbio flutuante e reservas, que são instrumentos de prevenção, mas passamos do ponto de tranquilidade”, avalia o economista da Tendências Consultoria Integrada Felipe Salto. Para ele, embora o solavanco externo após os sinais do Fed piore o quadro, o ponto mais grave é a baixa expectativa de crescimento, que reduz as perspectivas de IED, e a piora da confiança dos investidores num cenário fiscal também deteriorado.
 
Ainda assim, a Tendências espera alguma recuperação da balança comercial (superávit de US$ 9,5 bilhões no ano) e, por conta disso, vê números um pouco mais otimistas que os do BC em 2013: déficit corrente de US$ 68,7 bilhões e IED em US$ 64 bilhões.
 
O ex-chefe do departamento econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Armando Castelar está mais cético com a trajetória do balanço de pagamentos e chama atenção, justamente, para a piora da balança comercial. Esse movimento vai continuar, segundo ele, por causa da perspectiva de contínua desaceleração da economia chinesa. “O BC ainda prevê saldo positivo na balança [comercial], mas não me surpreenderia se fechássemos o ano no zero”, diz Castelar, destacando a queda nos termos de troca – razão entre os preços de exportados e importados.
 
Por isso, Castelar não vê nos próximos meses um impacto positivo nas contas externas vindo da alta recente do dólar. “Na verdade, é o contrário. A alta do dólar tem ocorrido justamente pela visão de que o balanço de pagamentos vai piorar”, afirma, explicando que, em condições normais, o ajuste das contas externas pela depreciação do câmbio já tende a demorar e que agora pode levar mais tempo pela perspectiva de que os preços dos produtos da pauta de exportação continuem se deprimindo.
 
Segundo o BNP Paribas, pelo câmbio, as contas externas só teriam alívio se a moeda americana alcançasse R$ 2,45 e ficasse em torno desse nível por um “período prolongado”.
 
Castelar se diz “bastante surpreso” com a velocidade no aumento do déficit em transações correntes e vê a proporção sobre o PIB piorando também porque o PIB em dólar deve diminuir, pressionado pela desvalorização cambial. Para ele, depois de cerca de dez anos, o balanço de pagamentos do Brasil volta a preocupar. “Existe uma necessidade de ajuste na economia para voltarmos a uma trajetória positiva nas contas externas. Só que isso passa por desvalorização do câmbio, que gera redução nos custos do trabalho, provocando queda na renda do trabalhador e, possivelmente, desemprego. E isso é doloroso. Há um preço a se pagar por esse ajuste, mas que é menor do que se nada for feito.”
 
Mais otimista, a LCA Consultores avalia que os recursos de longo prazo ainda têm preponderado no país. Mas pondera que o aumento da aversão ao risco globalmente e incertezas domésticas sobre o crescimento podem desacelerar os fluxos de IED. No caso dos investimentos em portfólio, dados preliminares de junho mostram perda de recursos em ações e atração para renda fixa após a retirada de IOF.
 
“Há uma mudança na composição [do financiamento do déficit corrente], com uma piora qualitativa”, afirma Antonio Madeira, economista da LCA. Ainda assim, é preciso considerar que há alternativas. Para ele, as incertezas externas provocam encurtamento dos prazos de captação, mas elas existirão, as empresas também poderão buscar mais operações de empréstimos bancários diretos e o investimento em renda fixa continuará, diante do aumento do juro brasileiro.
 
Fonte: Valor Econômico / Daniela Machado / José de Castro – 24.06.13

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