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A diretoria do Banco Central entra dividida na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje e termina amanhã, com o desafio de construir um consenso mínimo sobre o ritmo que irá imprimir daqui por diante no ciclo de aperto monetário iniciado em abril.

A análise de documentos oficiais do Copom e pronunciamentos de seus membros desde o último encontro aponta o diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, como um dos mais preocupados com a inflação elevada, disseminada e resistente – e um candidato natural a liderar um provável movimento para intensificar a alta dos juros básicos.
 
De outro lado, o diretor de assuntos internacionais da instituição, Luiz Awazu Pereira, é o mais inclinado a considerar que o ambiente de incerteza internacional poderá ajudar a dar algum alívio na alta de preços. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, estaria em algum lugar entre essas duas posições.
 
Em abril, o BC iniciou um ciclo de alta na taxa básica de juros, com um aumento de 7,25% ao ano para 7,5% ao ano. Indicações dadas por Tombini nos últimos dias ampliam as chances de intensificação no ritmo de aperto monetário, com uma alta de 0,5 ponto percentual, embora não esteja descartada a chance de uma alta de 0,25 ponto.
 
O principal ponto de discordância é como o cenário externo poderá afetar a inflação. Segundo a ata de abril do Copom, Awazu e o diretor de política monetária do BC, Aldo Luiz Mendes, ponderaram na última reunião que “que está em curso uma reavaliação do crescimento global e que esse processo, a depender de sua intensidade e duração, poderá ter repercussões favoráveis sobre a dinâmica dos preços domésticos.”
 
Carlos Hamilton fez um discurso num evento em São Paulo, o “Itaú Macro Vision 2013”, com uma leitura totalmente oposta. “Em se concretizando um ritmo de crescimento global mais robusto no horizonte relevante para a política monetária, a tendência é de que isso se traduza em expansão da demanda agregada doméstica, bem como em pressões altistas nas cotações das commodities nos mercados internacionais”, afirmou.
 
Tombini não fez nenhuma referência mais explícita sobre como o cenário internacional poderá afetar a inflação. Pela ata do Copom de abril, sabe-se que ele é um dos que não compartilharam da visão de Awazu e de Mendes de que não deveria ter alta de juros naquele momento.
 
Os analistas do mercado financeiro têm se esforçado para entender o significado dos placares divididos nas reuniões do Copom na gestão Tombini.
 
Em abril, uma leitura corrente foi que os votos contrários à alta de juros dados por Awazu e Mendes representavam um acordo interno dos membros do Copom para sinalizar que o ciclo de aperto monetário seria mais suave. De forma reservada, fontes do BC sustentaram, porém, que a divisão representava diferenças genuínas de visão entre diretores.
 
Depois da reunião do Copom de abril, houve uma preocupação do BC de mostrar que, apesar de diferenças em grau, havia certa unidade no Copom.
 
Awazu disse em Washington, por exemplo, que as discussões do BC não eram sobre “se” aumentar os juros, mas “quando”. As visões mais conservadoras de Carlos Hamilton, por outro lado, foram ratificadas pelo BC como uma mensagem afinada com os demais membros do Copom.
 
Isso não elimina as diferenças entre eles. Carlos Hamilton deu a declaração mais clara até agora na direção de uma alta mais forte do juro. “Cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária [da taxa Selic].” Mais tarde, quando indicou que poderia acelerar a alta de juro, Tombini foi menos explícito, falando em ação “tempestiva”.
 
O presidente do BC também tem usado palavras menos fortes do que Carlos Hamilton para descrever a inflação e a atividade econômica. Quando se pronunciou sobre as causas da aceleração inflacionária, por exemplo, Tombini apontou choques de oferta em alimentos e “outros fatores”. Já Carlos Hamilton foi mais detalhista, em descrever cinco fatores, incluindo pressão do aumento do salário mínimo e políticas fiscal, parafiscal e monetária expansionistas.
 
Tombini deu mais ênfase nos seus discursos à recuperação da atividade econômica, que, para ele, se mostra sustentável, enquanto Carlos Hamilton fez uma longa discussão sobre a possibilidade de a economia estar crescendo acima do potencial.
 
As declarações dissonantes não significam, necessariamente, um racha dentro do Copom que vazou em público. Daqui por diante, a tendência é que isso se repita com mais frequência e seja incorporado aos processos de decisão. O BC passou, no ano passado, a abrir como vota cada um de seus membros, o que torna natural que cada um dos seus diretores explique as suas posições, como ocorre em bancos centrais com o mesmo grau de transparência, como o Federal Reserve, dos Estados Unidos.
 
Fonte: Valor Econômico / Alex Ribeiro – 28.05.2013

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