Banqueiros e analistas financeiros receberam bem o plano de transferir para o Banco Central Europeu a supervisão direta dos 150 a 200 maiores bancos da zona do euro em 2014. Para eles, trata-se de uma medida vital – e um passo realista – para a resolução dos problemas da união monetária.
Mas investidores e outros banqueiros alertaram que muito mais precisa ser feito – um mecanismo comum de resolução para bancos em situação falimentar e um plano compartilhado de seguro de depósitos são metas de longo prazo. O acordo foi visto como um primeiro passo concreto para o restabelecimento da confiança e a revitalização dos empréstimos internacionais dentro do grupo das 17 nações que compartilham o euro.
Simon Lewis, presidente da Association for Financial Markets na Europa, chamou o acordo de “um grande passo à frente e também um elemento essencial na resolução da crise da zona do euro”.
No entanto, ainda restam preocupações de que a consolidação dentro da zona do euro possa em algum momento minar o mercado único de serviços financeiros dentro da UE, que congrega 27 países. Mas essas preocupações passaram a ser secundárias no curto prazo.
“É encorajador eles terem firmado um acordo na esfera política. Mas agora eles precisam trabalhar nos detalhes. Chegar a um acordo quanto ao mecanismo para resoluções bancárias em momentos de falência é muito importante”, disse um lobista de banco.
Sob os termos do acordo, o BCE terá responsabilidade direta pelos bancos com ativos de mais de € 30 bilhões ou que representem mais de um quinto do PIB de um país. O BCE só vai se incumbir totalmente dessa responsabilidade em 2014, um pouco depois que o esperado. Esse cronograma desapontou alguns analistas, mas foi bem recebido por outros, que dizem ser ele necessário para garantir uma transição tranquila. A data de 2014 também foi vista como politicamente necessária porque coloca a mudança de controle para depois das eleições alemãs de 2013.
“A notícia é positiva, mesmo que sua implementação tenha sido adiada um pouco e o número de bancos sob a tutela [do BCE] pareça menor que o esperado”, disseram analistas do Mediobanca.
Bancos de poupança da Alemanha, que queriam ficar sob supervisão nacional, disseram que preferiam um corte em € 70 bilhões, mas o número menor significa que apenas um banco de poupança – o Hamburg”s – vai ficar dentro da esfera do BCE.
Os bancos privados da Alemanha ficaram bem mais entusiasmados, afirmando que o resultado ficou perto do que eles desejavam, dando ao BCE o direito de supervisionar qualquer banco que quiser, mas mantendo uma proporcionalidade e não sobrecarregando os bancos menores. “O BCE tem de ser capaz de morder, e não só de latir”, disse Andreas Schmitz, presidente da associação que representa os bancos privados alemães.
Advogados e analistas disseram que a transferência para o BCE provavelmente levará a um aumento da regulamentação e alertaram que a European Banking Authority, que elabora as regras para toda a União Europeia, terá de receber recursos adicionais e poderes para proteger o mercado único. “É muito cedo para prever qual será o impacto prático, mas provavelmente isso resultará em uma regulamentação maior”, disse Malcolm Hitching, sócio da firma de advocacia Herbert Smith Freehills.
Nick Anderson, analista da Berenberg, disse que a iniciativa provavelmente resultará em mais pressões sobre os lucros dos bancos. “Os bancos vão se sujeitar à regulamentação mais rígida agora? Provavelmente. De qualquer maneira, esta é a tendência e os políticos estão se envolvendo muito mais na regulamentação.”
Fonte: Valor Econômico / Brooke Masters – 14/12/12