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O impasse da dívida em Washington está criando estresse num canto pouco conhecido, mas vital, para o mercado de títulos de dívida, elevando o risco de que bancos, fundos de hedge e outros investidores tenham de pagar bilhões de dólares em custos adicionais se os EUA suspenderem pagamentos ou forem rebaixados.

Estão subindo os juros para acordos de recompra, conhecidos no país como “repos” – um mercado de cerca de US$ 4 trilhões que lubrifica as engrenagens do sistema financeiro americano – enquanto governo e Congresso se digladiam sobre como reduzir o déficit do país, no longo prazo, e aumentar o teto de endividamento do governo, no curto. E Wall Street agora está calculando os estragos que podem surgir caso o governo continue impedido de tomar emprestado e não consiga mais pagar todas as suas contas a partir do dia 2 de agosto, como o Departamento do Tesouro tem dito que vai acontecer, ou se o país acabar perdendo sua nota de crédito AAA.

Embora muitos acreditem que o impacto no mercado de repos será pequeno, alguns temem que os custos de financiamento subirão.

O mercado repo é a principal fonte de fundos de curto prazo para muitos mercados financeiros. Todos os dias, bancos, fundos de hedge e investidores institucionais tomam e dão empréstimos de curto prazo, em dinheiro ou títulos.

Quem toma empréstimo põe alguns dos seus papéis mais seguros como garantia, especialmente títulos de dívida do Tesouro americano ou de agências do governo. Essa garantia vale mais que o total do empréstimo e funciona como uma forma de seguro para quem cede o empréstimo para o caso de o tomador não pagar. A diferença entre o valor da garantia e o total do empréstimo é conhecido como “haircut”, ou corte de cabelo.

Mas, se a nota de crédito cair mesmo, os emprestadores podem exigir uma compensação adicional para o risco de reter a garantia, forçando os tomadores a pôr mais papéis ou dinheiro para os mesmos empréstimos. Resultado: bancos, fundos de hedge e investidores que dependem de financiamento podem ser forçados a adicionar bilhões de dólares em garantia ou tomar menos dinheiro pela mesma garantia.

“Dado o grande uso de papéis do Tesouro nessas transações, mesmo uma pequena mudança poderia levar todo mundo a ter de entrar com mais de seu próprio dinheiro para manter o mercado do modo como tem sido”, disse Anil Kashyap, economista de finanças da Universidade de Chicago.

Isso pode ter consequências para outros mercados financeiros e para a economia, porque tomadores de empréstimos venderiam outros ativos, como ações ou commodities, para levantar dinheiro. O resultado líquido pode ser a redução do total de dinheiro disponível para aplicações financeiras.

Atualmente, emprestadores em geral têm de dar o equivalente a US$ 102 em títulos do Tesouro para cada US$ 100 que emprestam.

Se a nota dos EUA for rebaixada para AA, dizem analistas, alguns fundos do mercado monetário, empresas e outros que concedem empréstimos podem passar a exigir US$ 103 em Treasurys para cada US$ 100 em dinheiro. Ainda que a mudança na exigência de garantia seja pequena, o resultado conjunto equivaleria a uma chamada de margem generalizada para bancos e outras instituições e à redução de dinheiro em circulação nos mercados e no sistema financeiro.

Durante várias semanas nos últimos meses, o mercado de repo nos EUA tem tido movimentações inusitadas, em que a demanda por Treasurys foi tão alta que as partes cedendo empréstimos estavam dispostas a fazer financiamentos repo a juros perto de zero.

Mas, nos últimos dias, o impasse em Washington e uma alta no rendimento das notas do Tesouro dispararam temores. Operadores dizem que algumas empresas e instituições recuaram em ceder empréstimos repos, preferindo preservar caixa em meio à incerteza, e o volume de repo caíram por isso.

Outros estão exigindo juro maior para compensar a possível volatilidade maior dos Treasurys.

A taxa para transações repos no overnight foi de cerca de 0,1 ponto porcentual na tarde de quarta-feira, segundo traders de Wall Street. Compare isso à taxa de 0,01 ponto porcentual antes esta semana, segundo dados da FactSet.

A taxa ainda está baixa por padrões históricos, mas a movimentação recente é “notável”, disse Joseph Abate, estrategista do mercado monetário da Barclays Capital. “A preocupação é que todo mundo quer continuar o mais líquido possível, o que significa segurar caixa. Isso é parte do que vemos acontecer no mercado repo.”

Numa decisão relacionada a isso, a CME Group informou aos traders na segunda-feira que, a partir da terça, teriam de pôr mais Treasurys como garantia para operações de futuro, respondendo à crescente volatilidade dos mercados de títulos do Tesouro.

O temor no mercado repo desta vez é bem diferente do de 2008, quando secou o financiamento ao Bear Stearns, pouco antes de seu colapso, e a outras firmas de Wall Street. Temia-se então que instituições financeiras em dificuldades, que haviam dado como garantia papéis lastreados por hipotecas de alto risco, não conseguiriam retornar o dinheiro e deixariam os credores com ativos de valor suspeito.

Desta vez o estresse se concentra em como o mercado reagiria a um rebaixamento. Por exemplo, poucos corretores primários (“prime brokers”, que emprestam dinheiro e prestam outros serviços a fundos de hedge) usam notas de crédito para determinar haircuts, preferindo olhar para a volatilidade do mercado. “Treasurys têm risco”, diz Tomer Seifan, diretor da área para o BNP Paribas. “Se a volatilidade mudar, o haircut pode mudar.”

Veículos de investimento que se apoiam muito em financiamento para comprar títulos de dívida podem estar mais vulneráveis.

Fonte: Valor Econômico – Matt Phillips, Ben Levisohn e Serena Ng | The Wall Street Journal – 29/07/2011

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