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O crescimento acelerado do crédito nos bancos públicos não tem sido acompanhado por reforço proporcional no colchão anticalote das instituições. Já nos bancos privados, o movimento é oposto, refletindo a adoção de estratégias diferentes entre os controladores.
 
Dados do Banco Central mostram que o total de provisões para devedores duvidosos cresce em um ritmo inferior ao da carteira de crédito dos bancos públicos, comportamento contrário ao apresentado pelo segmento privado. Em junho, o crédito havia crescido 27,1% nos bancos públicos, em relação ao mesmo mês do ano passado. No mesmo período, o estoque de provisões para lidar com calotes cresceu 15,9%. Já nos privados, incluindo instituições de capital estrangeiro, o avanço no total de empréstimos foi de 11,2%, enquanto as provisões cresceram o dobro (22,6%).
 
As provisões são uma reserva feita pelos bancos para lidar com eventuais calotes, constituída com base em regras do BC que levam em conta, entre outros fatores, o risco de crédito do cliente e o tipo de operação — financiamento imobiliário, por exemplo, exige uma provisão menor do que um crédito ao consumo. Os bancos podem ainda fazer provisões adicionais em cenários de maior incerteza em relação ao comportamento futuro da inadimplência.
 
Há outras explicações para o descompasso nessas reservas. Com o ritmo de desaceleração da economia acima das expectativas, os bancos privados frearam as concessões de crédito, contribuindo para o aumento da inadimplência e, consequentemente, para o reforço maior nas provisões. Inadimplência é a relação entre o estoque de crédito de uma instituição em relação ao volume de operações em atraso. Já nos bancos públicos as concessões de crédito aumentaram mas a inadimplência não.
 
No Banco do Brasil, que divulga seu balanço do segundo trimestre no próximo dia 14, a expectativa, na época da divulgação dos resultados do primeiro trimestre, era de melhora da inadimplência. Na ocasião, o vice- presidente de finanças, Ivan Monteiro, afirmou que o gasto com provisão era justificado pelo crescimento da carteira de crédito até final de março.
 
Na avaliação do economista chefe da Associação Nacional das Instituições Financeiras de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, o fenômeno também pode ser explicado pelo perfil da carteira das instituições públicas e maturidade das operações. Ele explica que os atuais créditos problemáticos nos financiamento de veículos foram concedidos em 2010 e estão concentrados nos bancos privados. Já os públicos, quando aceleraram a concessão nessa linha, foi no período mais recente, e a inadimplência ainda não apareceu. “As instituições públicas podem não ter pego o mesmo cliente problemático. Hoje os critérios de análise para concessão de crédito são muito melhores”, defende.
 
Outro fator apontado por especialistas é estatístico. Roy Martelanc, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, lembra que quando uma carteira de crédito para de crescer – em geral porque os novos créditos concedidos são volumes inferiores aos das quitações de empréstimos antigos —, a tendência é de elevação da inadimplência, mesmo que o volume de operações em atraso se mantenha estável. “Quando se desacelera muito o crédito a carteira de fica velha, e aí a inadimplência proporcionalmente sobe.”
 
Já o presidente da Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, mostra maior preocupação em relação a parcela proporcionalmente menor de proteção que vem sendo adotada pelos bancos públicos. O problema é que, caso ocorra uma reversão de expectativas e as reservas não forem suficientes para lidar com esse quadro, o lucro dessas instituições pode recuar. “Mas, em um cenário extremo de aceleração do aumento de inadimplência, eles podem contar com a ajuda do Tesouro Nacional”, diz Rodrigues, lembrando que isso já aconteceu em 2001, quando foi criada a Empresa Gestora de Ativos (Emgea) para incorporar os créditos imobiliários problemáticos da carteira da Caixa Econômica Federal.
 
De fato, como o controle dos bancos públicos está na mão do governo federal, não há nesse descompasso entre crescimento do crédito e das provisões um risco para o sistema financeiro. “O pior que pode acontecer é uma piora nos resultados e o reflexo nas ações, no caso dos bancos de capital aberto”, acredita o professor do Insper Ricardo Almeida.
 
Já o contrário acontece com os privados. Como eles estão reforçando as provisões, os lucros caíram um pouco em relação a períodos passados. “As provisões refletem as expectativas de inadimplência dos bancos. Se os privados provisionam mais, é porque estão com uma expectativa pior”, analisa.
 
Fonte: Brasil Econômico/ Ana Paula Ribeiro – 06/08/2012

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