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O consumo das famílias mostrou pequena desaceleração no ritmo de crescimento no quarto trimestre de 2009, registrando alta de 1,9% sobre o terceiro, feito o ajuste sazonal, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentro da pesquisa referente ao comportamento do Produto Interno Bruto (PIB).

A ligeira perda de fôlego da demanda foi acompanhada de um forte ritmo de alta do investimento – 6,6%. Mesmo assim, essa benéfica combinação de crescimento não deve ser suficiente para que o Banco Central (BC) adie o aumento dos juros – a maioria dos analistas espera que a alta ocorra este mês ou, no máximo, em abril. Um dos riscos de 2010 é o “atraso” da oferta em relação à demanda.

No acumulado de 2009, a economia brasileira encolheu 0,2%, puxada para baixo pela retração de 9,9% do investimento e de 5,5% da indústria. O consumo das famílias serviu como um amortecedor importante para a atividade no ano em que o mundo passou pela maior crise desde os anos 30. Para 2010, as apostas se concentram em uma alta entre 5,5% e 6%, tarefa facilitada pelo forte ritmo de crescimento do fim do ano passado. Pelos dados do IBGE, se a economia não crescer nada em relação ao nível do fim de 2009, o PIB terá alta de 2,7% – o chamado “carry over”. 

No terceiro trimestre de 2009, o consumo das famílias chegou a apontar um ritmo explosivo – cresceu 2,4% em relação ao segundo trimestre, um número que indicava uma taxa de 10% ao ano, se fosse projetada para 12 meses. Com a alta mais modesta do quarto trimestre, a taxa anual recuou para 8,2%. A melhor notícia do PIB no quarto trimestre, porém, foi o crescimento de 6,6% do investimento, confirmando a aposta firme das empresas na expansão da capacidade produtiva. O PIB total do quarto trimestre teve alta de 2% em relação ao trimestre anterior. 

O economista Júlio Callegari, do J.P. Morgan, diz que a economia brasileira mostrou uma expansão robusta no quarto trimestre, observando que o nível do PIB superou – em 0,66% – o patamar alcançado antes do agravamento da crise, no terceiro trimestre de 2008. “Com isso, ficou para trás a fase em que a economia estava se recuperando do tombo sofrido depois da crise”, afirma ele, para quem isso significa que não há grande ociosidade de recursos na economia. A alta forte das vendas no varejo em janeiro, de 2,7% em relação a dezembro, feito o ajuste sazonal, confirma que a demanda segue forte, segundo Callegari. Ele espera alta de juros já na próxima semana, mas mesmo assim projeta alta do PIB de 6,2% no ano, com expansão de 17,7% no investimento e de 7% no consumo das famílias. 

O economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada, também avalia que o consumo das famílias seguiu em alta bastante forte no quarto trimestre, apesar deste indicador ter crescido a um ritmo inferior ao do PIB total pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2007. “Um ritmo de 1,9% por trimestre, ou quase 8% em termos anualizados, não é sustentável”, afirma ele, que espera alta dos juros em abril, especialmente pela piora das expectativas de inflação. 

Os investimentos, crescendo três vezes mais que o consumo das famílias, de acordo com os dados do IBGE, estão “atrasados”, segundo Fernando de Paula Rocha, sócio da JGP Gestão de Recursos. Para Rocha, os empresários somente voltaram a investir quando perceberam que a demanda estava forte e iria durar. “As empresas viram que o consumo disparou e passaram a correr atrás”, avalia. Em 2010, diz Rocha, o BC deve atentar para o descompasso entre oferta e demanda, que deve levar a inflação a estourar o centro da meta de 4,5% perseguida pelo BC. A JGP estima que a inflação deve fechar 2010 em 5,5%, mas, segundo Rocha, “com chances maiores de bater em 6% que recuar a 5%”. 

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, tem uma visão mais benigna da trajetória da economia, com uma moderação do ritmo de crescimento que permitirá ao BC elevar os juros apenas em junho. Ele acredita que a desaceleração do consumo das famílias continuará nos próximos meses, principalmente por conta da antecipação das compras de bens duráveis ocorrida nos trimestres anteriores, quando o consumidor aproveitou a redução das alíquotas do IPI de veículos e eletrodomésticos da linha branca.

Para Borges, a alta das importações deve aliviar pressões inflacionárias na indústria. “Ainda há uma ociosidade residual que permite à economia crescer por mais um tempo acima do seu ritmo potencial [aquele que não gera pressões inflacionárias]”. A maturação dos investimentos, para os quais ele projeta alta na casa de 20% neste ano, também ajuda nesse sentido, ao aumentar a capacidade produtiva da economia. 

Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, o hiato da economia se fechou entre o fim de 2009 e os primeiros meses deste ano, e mesmo o avanço dos investimentos verificados no período não é suficiente para dar conta da demanda. São duas consequências, diz Goldfajn, “as importações aumentam fortemente, para suprir a oferta interna, e, por outro lado, o BC terá de operar mais cedo para conter pressões inflacionárias”. O Itaú Unibanco, que previa 2% de elevação no PIB do quarto trimestre, projeta que haverá déficit de US$ 2 bilhões na balança comercial em 2010. Goldfajn, que foi diretor do BC entre 2000 e 2003, acredita, também, que o Banco Central começará a elevar os juros já na semana que vem.

Fonte: Valor Econômico/Sérgio Lamucci, João Villaverde e Rafael Rosas – 12/03/10

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