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O Banco da Índia surpreendeu a maior parte dos analistas ao manter inalterada a taxa de juros no país ontem, depois de cortá-la inesperadamente na reunião passada. Mas a decisão não muda as perspectivas dos analistas sobre o ciclo de afrouxamento pelo qual passam os países emergentes – que deve continuar.

Para os economistas ouvidos pelo Valor, a maioria dos países emergentes vai aprofundar ou iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, reagindo ao agravamento da crise europeia e às preocupações com os rumos da economia global. Desta vez, alertam economistas, o remédio pode não funcionar como na época da crise do “subprime” americano, já que atualmente esses países possuem taxas reais mais baixas do que em 2008, limitando o espaço de atuação dos bancos centrais e a repercussão dessa atuação na economia.
 
Os analistas citam ainda outros dois fatores que complicam esse cenário: um é a atual crise, que vem se prolongando e abalando a economia global. O outro é a fuga de capitais causada pela queda nas taxas de juros, que, por sua vez, desvaloriza as moedas nacionais. Esse foi, inclusive, um dos argumentos do Banco da Índia para manter a taxa de referência do país em 8%. No seu comunicado, o BC indiano citou a forte e contínua desvalorização da rúpia, que anulou o efeito da recente queda no preço do petróleo sobre a inflação.
 
O economista global do Bank of America Merrill Lynch (BofA), Gustavo Reis, alerta que a eficácia da ação dos bancos centrais é hoje menor do que em 2008, quando um grande choque externo – representado pela quebra do americano Lehman Brothers – se alastrou por toda a economia global. Na situação atual, compara Reis, a crise vem se desdobrando em sucessivos choques, podendo desencadear outros ainda.
 
Entre os perigos mais evidentes citados pelo economista do BofA, estão os riscos de um aperto fiscal nos Estados Unidos e de rupturas na economia europeia.
 
Uma eventual saída da Grécia da zona do euro foi atenuada pelo resultado das eleições no fim de semana, mas as preocupações em relação à Espanha ainda estão no radar – o rendimento dos bônus do país atingiram a marca recorde de 7,28% ontem. Tais choques, de acordo com Reis, afetariam rapidamente os países emergentes. Enquanto isso, os efeitos das políticas monetária e cambial nessas economias demorariam cerca de seis meses para reanimar a atividade.
 
No relatório do HSBC “Cortes de juros na Ásia?”, Frederic Neumann também faz ressalvas às políticas monetárias dos emergentes asiáticos: “As taxas de juros estão mais baixas do que em setembro de 2008. Além disso, as pressões estruturais sobre os preços aumentaram e há o risco de bolhas nos preços dos ativos assim que o apetite pelo risco se recuperar”. Para Neumann, caso o cenário se agrave como em 2008, a política fiscal será mais efetiva para sustentar o crescimento.
 
Já a economista de mercados emergentes do banco nórdico Nordea, Aurelija Augulyte, avalia que os países asiáticos vão seguir os rumos da política monetária da China, ou seja, devem cortar taxas juros, assim como fez o BC chinês há duas semanas, pela primeira vez desde 2008. “Além disso, por serem países exportadores, a possível desvalorização da moeda causada por mais cortes resultaria em um aumento da competitividade”, diz.
 
Aurelija, no entanto, ressalva que o mesmo não pode ser dito sobre os países emergentes europeus, como Polônia, Turquia, Rússia e República Checa, que não devem cortar os juros, a fim de impedir saídas de capital e a desvalorização de suas moedas.
 
A economista-chefe de mercados emergentes do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) em Hong Kong, Alicia Garcia-Herrero, concorda que uma nova rodada de cortes nos emergentes pode incentivar a fuga de dinheiro. “A maioria dos países emergentes ainda precisa de investimentos externos para financiar sua conta corrente, mas esses fluxos são voláteis.” Para Alicia, se a situação se complicar na Europa ou na China, ao mesmo tempo em que os juros caírem nos países onde a aversão ao risco é maior, o investidor não terá nem mesmo o incentivo do “carry trade” (arbitragem de taxas de juros) para manter seu capital nos emergentes.
 
Apesar dos perigos apontados, os analistas ouvidos pelo Valor avaliam que, de maneira geral, os bancos centrais dos emergentes devem seguir afrouxando suas políticas monetárias. Como aponta o economista do BofA, os ventos deflacionários que sopram da desaceleração global indicam mais afrouxamento ou, ao menos, interrupção na elevação dos juros. “O preço do petróleo havia subido muito neste ano e o risco do contágio nos preços poderia levar os BC”s – como, por exemplo, o da Indonésia -, a subir os juros.” Mas a queda nos preços do petróleo inverteu tal cenário. De acordo com o índice de atividade do BofA, a Indonésia é um dos emergentes que mais desacelera, deixando espaço para afrouxamento.
 
Além disso, enquanto em 2009 os países emergentes se recuperaram antes dos países desenvolvidos, puxando a reação da economia mundial, em 2012, como sinalizam os índices de atividade do BofA, os emergentes desaceleraram em ritmo mais intenso que o resto do mundo.
 
Em relatório sobre os índices, os economistas do banco Alberto Ades, Gustavo Reis e Vasileios Gkionakis avaliam que “a recente deterioração da atividade mundial se deve ao hesitante crescimento nos emergentes. Políticas fiscais e monetária mais frouxas podem incentivar o crescimento, mas muito depende das perspectivas para a zona do euro”.
 
Fonte: Valor Econômico/ Carolina Oms – 19/06/2012

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