O consumo das famílias brasileiras deve crescer menos nos próximos três meses. Depois de um período de gastos expressivos em 2010 e 2011 é hora de colocar o freio no bolso. Mas, mesmo com uma expectativa de desaceleração, o consumo das famílias deve continuar ajudando no crescimento da economia.
A expectativa do governo é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça entre 4% e 4,5% este ano. Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que espera um aumento do consumo entre 7% e 8% e que novas medidas podem ser anunciadas para estimular as compras dos brasileiros.
A preocupação do governo com os gastos das famílias é pertinente. Em países desenvolvidos, o que impulsiona o crescimento econômico é o consumo interno. No Brasil, a participação dos gastos dos brasileiros no PIB ficou em 60,3% no ano passado, próxima à média dos países ricos.
?Em nações desenvolvidas o percentual de gastos das famílias chega a 70%?, diz Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. O PIB sob a ótica da demanda considera também os gastos do governo, da formação bruta de capital fixo, da agropecuária, da exportação e exportação. ?Cada vez mais o consumo deve ajudar o crescimento da economia?, diz Alcides Leite.
Segundo uma pesquisa do Programa de Administração e Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), divulgada ontem, o consumo dos brasileiros deve crescer 2,9% no segundo trimestre deste ano, contra 7% em igual período do ano passado.
O avanço mais lento do consumo é um dos reflexos das compras de bens duráveis nos últimos meses. Os brasileiros aproveitaram a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em diversos setores para trocar os móveis e eletrodomésticos da casa. Como não é todo mês que geladeiras e fogões são trocados, a tendência agora é uma redução gradual nestes gastos.
Segundo a pesquisa, a maior parte das categorias analisadas apresentou queda na intenção de compra dos consumidores. As exceções foram material de construção, cuja expectativa de intenção de compra passou de 6% para 9% do segundo trimestre de 2011 para o segundo trimestre de 2012. A outra categoria foi linha branca que teve um aumento de intenção de compra de 7,6% nos primeiros três meses de 2011 para 10,2% no segundo trimestre deste ano. Outro fator que pode frear o consumo é a pouca capacidade de o brasileiro pagar suas dívidas, apesar do aumento real d e 9,07% dos salários entre janeiro de 2011 e o mesmo mês de 2012.
Com mais dinheiro, as famílias gastaram mais e, com isso, a inadimplência deve registrar, em maio, o maior percentual desde 2009, de 8,1%. A taxa de inadimplência só deve dar sinais de queda a partir de junho. ?Se o consumidor brasileiro não parcelar, ele não compra, e o atual nível do consumo interno pode não sustentar a expansão do PIB desejada pelo governo?, disse Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Conselho do Provar.
Fonte: Brasil Econômico/ Chrystiane Silva – 12/04/2012