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O Banco Central deve se redimir agora do brutal erro de avaliação cometido em 2008, quando a crise financeira eclodiu após a quebra do Lehman Brothers, em setembro. Um pouco antes, em 10 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom), considerando apenas as condições internas, com a inflação a uma velocidade anual de 6,3%, resolveu elevar a taxa básica de juros de 13% para 13,75%. O mundo financeiro desabou, mas o BC ainda manteve os juros intocados até a reunião encerrada em 21 de janeiro de 2009, quando reduziu a Selic em um ponto percentual.

Esse foi o exemplo claro de que uma análise basicamente doméstica dos fatores que condicionam a inflação pode levar a decisões desafortunadas. Por parte do mercado, as críticas de que o BC perdeu uma grande chance de reduzir rapidamente os juros na ocasião só foram feitas um bom tempo depois e com a timidez de praxe quando se trata de movimentos para derrubar os juros.

O BC agora, ao que parece, não quer perder nova oportunidade. A inflação, alta em 2008, recuou a golpes de um abrupto corte no crédito, provocado pela súbita interrupção dos canais de financiamento externos. Embora haja diferença na dinâmica inflacionária entre 2008 e agora, o BC surpreendeu o mercado ao iniciar em agosto um ciclo de baixa dos juros, considerado prematuro pelo setor financeiro. Como em 2008, a maior parte do mercado desconsiderou os efeitos destrutivos da crise que se desenrolava na Europa. Com a recuperação americana patinando, o Japão estagnado e a perspectiva de que a China desaqueceria os motores de sua expansão acelerada, a aposta de que a inflação se desaceleraria no Brasil tinha bases sólidas.

De lá para cá, quanto mais o BC acertou, pelo menos no curto prazo, mais o mercado estranhou o comportamento da autoridade monetária. Foi em parte auxiliado nisso pela enxurrada de declarações de várias esferas do governo, que aumentaram os ruídos após um claro erro de comunicação do BC.

Nessa toada, confundiram-se os objetivos das ações do BC com outros que possivelmente não foram por ele cogitados. A célebre pressa exigida pela presidente Dilma Rousseff em atingir o juro de um dígito, finalmente alcançado na última reunião do Copom, encontrou campo favorável na realidade, embora desse margem às suspeitas de que havia acabado a autonomia informal que o BC desfrutava há muitos anos.

Nova onda de avaliações recentes ligou a aceleração nos cortes da Selic à necessidade de impedir a valorização do real. Até agora, o BC não mirou a taxa de câmbio, embora a redução do diferencial de juros ajude a desestimular o fluxo de capitais de curto prazo à procura de bons retornos com arbitragem das taxas. O BC precisaria reduzir muito os juros domésticos se quisesse mesmo brecar o carry trade. O diferencial a favor dessa operação atinge hoje, mesmo após o corte de 0,75 ponto percentual, algo como 8,13%, expressos pelo retorno dos “Non-Deliverable Forward”, que levam em consideração a diferença da taxa de juros doméstica e a Libor dólar (taxa interbancária de Londres usada como referência para empréstimos na moeda americana). O BC indicou que o comportamento da demanda doméstica o preocupava.

As taxas de juros reais no Brasil tornaram-se uma aberração diante dos juros atuais nos países desenvolvidos e mesmo nos emergentes, em geral negativos ou ligeiramente positivos. Com dados fracos da atividade econômica, indústria sem crescimento, possível efeito deflacionário das importações e enorme instabilidade externa, tentar reduzir mais rapidamente os juros é uma coisa sensata.

Há obstáculos claros e muita coisa pode dar errado. Os mercados preveem inflação em alta em 2013, já contando com aquecimento da economia decorrente das ações do governo e da elevação do salário mínimo. Com o risco geopolítico em alta no Oriente Médio, o comportamento do preço do petróleo volta a ser uma incômoda incógnita. E os impulsos fiscais, monetários e creditícios para fazer a economia retomar o fôlego podem ser exagerados, chegar a contornar a meta fiscal e trazer de volta, antes do esperado, a alta da inflação. É certo que o BC corre grandes riscos. Pelo fato de ter acertado até agora em seus prognósticos, torna-se incompreensível a ausência de sinais indicativos de suas ações para o mercado. Ao contrário de derrubar a inflação, esse não é um problema muito difícil de resolver.

Fonte: Valor Econômico 13/03/2012

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