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O mercado está convencido de que o Banco Central deve interromper o ciclo de aperto monetário na próxima reunião, que termina no dia 31 de agosto. Mas não tem certeza sobre o espaço de um novo ciclo, agora de alívio monetário, no curto prazo. A avaliação dos analistas é de que a piora das perspectivas da economia global deixa o cenário mais nublado e, por isso, afasta a chance de o BC continuar subindo a taxa Selic. Mas não traz a garantia de que a fraqueza da atividade no mundo desenvolvido amenizará, efetivamente, as pressões sobre a inflação doméstica.

Dos 33 economistas ouvidos pelo Valor, todos preveem estabilidade da Selic na reunião da semana que vem, em 12,50%. Apenas três esperam queda de juros ainda este ano; e treze veem Selic mais baixa até o fim de 2012. As demais ainda não preveem mudanças na taxa até dezembro do ano que vem, por causa do comportamento da inflação, que ainda resiste a flutuar acima do centro da meta, de 4,5%, mesmo com a atividade mundial em franca desaceleração.

“Não vejo elementos que tragam a inflação para baixo”, afirma o economista-chefe da Tandem Global Partners e ex-diretor do Banco Central, Paulo Vieira da Cunha, que espera manutenção da Selic em 12,50% até dezembro de 2012. “Por isso, eu não entendo por que a curva de juros futuros já trabalha com expectativa de queda de juros.” Em sua visão, os crescentes gastos públicos, o reajuste do salário mínimo e a massa salarial robusta continuarão alimentando a inflação nos próximos meses – ainda que a atividade sofra retração. E isso colocará o BC diante de um importante dilema: de um lado, verá a atividade crescer abaixo do potencial e, de outro, a inflação resistirá acima do centro da meta. “Aí é que será a decisão difícil”, diz.

Para Vieira da Cunha, esse cenário foi traçado a partir da avaliação de que a crise externa parece contagiar o Brasil apenas pela via da aversão ao risco – por causa das incertezas sobre o rumo das economias desenvolvidas, investidores optam por ativos mais seguros, provocando volatilidade nos preços. Não há indicações de que o país vai se ressentir por causa de efeitos negativos financeiro ou comercial – que afetaram diretamente a economia brasileira em 2008, quando quebrou o banco Lehman Brothers. “Claro que se houver algo mais grave, o que até aqui parece ser pouco provável, as previsões mudam.”

Jankiel Souza, economista-chefe do BES Investiment, acredita que a Selic poderá voltar a cair em outubro de 2012. Mas, até lá, a inflação continuará tendo um peso importante no balanço de riscos a ser considerado pelo BC. “O mais provável é que a inflação fique acima do centro da meta, de 4,5%, apesar da crise”, afirma. Isso porque, explica, a dinâmica do crescimento do país tem “motores internos” mais importantes do que os internacionais. “A corrente de comércio do Brasil é de cerca de 20% do PIB, o que significa que o efeito sobre a inflação de uma queda do preço das commodities é reduzido”, afirma. “Se o Chile, que tem uma economia muito mais aberta, não está falando em cortar juros, não faria sentido que o Brasil fizesse isso agora.”

A dimensão da crise atual – mais restrita do que a vivida em 2008, quando os BCs do mundo tiveram de afrouxar a política monetária – aparece como importante argumento entre os analistas que esperam juros estáveis nos próximos meses. É o caso de Marcelo Kfouri, economista-chefe do Citibank Brasil, que não considera o momento como uma nova crise, mas continuação de 2008. Para ele, a reação dos juros futuros, que caíram com força nas últimas semanas, é a iniciativa do mercado de antecipar o que ocorreu na crise de 2008. Mas ele não vê espaço neste momento para uma reação do governo pautada por estímulos fiscais e monetários. “Na prática, temos uma reprecificação de ativos num cenário de risco de recessão. Nós, no Citibank, ainda não trabalhamos com essa perspectiva”, observa. Assim, o economista vê queda no próximo movimento do Copom, mas não acredita que ele ocorrerá tão cedo.

Marcelo Kfouri calcula que o Copom deve baixar o juro somente quando a atividade for efetivamente comprometida. E isso só poderá ser visto a partir dos indicadores de agosto e setembro. Ele avalia que algo pode acontecer até outubro ou um pouco mais adiante. Na estimativa do Citibank, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre estará rodando a 0,5% ou 2% anualizados, confirmando uma atividade fraca.

“Não estamos vivendo uma crise aguda, como a de 2008, mas uma desaceleração”, afirma o economista-chefe do HSBC, André Loes. Ainda que esse fenômeno possa provocar a recessão dos países desenvolvidos e, assim, afetar os preços globais, o fato de a inflação ainda estar bem acima do centro da meta impede que o BC considere a possibilidade de cortar os juros agora. “Dependendo dos próximos números, talvez haja alguma mudança da elic em novembro”, afirma. “Mas a postura típica dos momentos em que o cenário está nublado é não fazer nada. Acho que o BC não irá se precipitar.”

Já o Bradesco não descarta o início do afrouxamento monetário antes do fim do ano. Em princípio, Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da instituição, considera a possibilidade de um corte do juro básico ocorrer somente no primeiro trimestre de 2012. Ainda assim, ele reitera o discurso da maioria do mercado de preocupação com a inflação. “Não devemos desprezar o risco de estouro do teto da meta [de inflação] este ano”, afirma. Para ele, esse risco aumentou consideravelmente, porque a atividade não vai desacelerar tanto. “Haverá desaceleração, mas não de forma dramática”, afirma. “As condicoes materiais para o consumo e o investimento continuam praticamente intactas.”

No grupo da minoria, Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas para América Latina, vê dois cortes consecutivos da Selic ainda neste ano, nas duas últimas reuniões do Copom, e conta com redução de mais 1 ponto percentual em 2012, o que levará a taxa a 11%. Ele atribui esse declínio rápido ao desaquecimento da economia global, afetando o Brasil. “O BC vai reagir à desaceleração da atividade no Brasil que vai ser muito mais pronunciada do que se imagina. Projetamos crescimento do PIB abaixo de 3% em 2012, refletindo, também, as medidas domésticas de aperto monetário já adotadas nesse ano, além do choque global.”

Fonte: Valor Econômico/Lucinda Pinto e Angela Bittencourt – 26/08/2011

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