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Se você quer saber se o capitalismo está vivo e passa bem, observe os lançamentos de ações pelas empresas. As ofertas públicas iniciais (IPO, nas iniciais em inglês) permitem que os investidores lucrem com histórias de sucesso no mundo dos negócios, forneçam recursos para a criação de empregos e o crescimento da economia, além de revigorarem as bolsas mundiais.
 
Mas as notícias mais recentes não são animadoras. A estreia na semana passada, de US$ 1,7 bilhão, em Londres, da Megafon demonstrou que as bolsas europeias ainda apresentam sinais vitais. Porém, a precária receptividade às ações da operadora russa de telefonia celular, que caíram abaixo do preço de oferta logo depois do início do pregão, apenas alimenta o temor de que um IPO de inesperado e grande sucesso se tornou uma espécie ameaçada de extinção.
 
Os volumes mundiais de IPOs caíram este ano para níveis praticamente comparáveis aos de 2008 e 2009, quando a economia mundial amargava as consequências do colapso do banco de investimento Lehman Brothers. Mesmo num mercado fraco, o desempenho da Europa está abaixo da média, ao responder por apenas 11% das operações mundiais de IPOs até esta altura do ano. Esse percentual é menor que a metade da proporção do ano passado, segundo dados da Thomson Reuters. O resultado tem gerado questionamentos existenciais entre bancos e bolsas. O futuro dos IPOs não diz apenas respeito ao bom funcionamento dos mercados de capitais. O que está em jogo é a sustentabilidade dos departamentos de ações dos bancos, dependentes de IPOs para gerarem outros negócios, que enfrentam acirrada concorrência num setor em processo de atrofiamento.
 
Se a causa fosse simplesmente a precariedade da atmosfera econômica, haveria menos preocupação: poderíamos nos limitar a esperar pela recuperação. A especial fragilidade do mercado europeu de IPO sugere que esta é, pelo menos, parte da explicação: o continente está atrás dos Estados Unidos na geração de qualquer tipo de recuperação econômica. Quando as empresas europeias tiveram histórias de crescimento internacional para contar, a tentação era lançarem suas ações em bolsas externas. O grupo italiano de artigos de luxo Prada lançou no ano passado suas ações em Hong Kong.
 
O perigo, no entanto, é que a derrocada dos IPOs resulte das mudanças mais profundas impostas ao funcionamento dos mercados financeiros num mundo pós-crise. Os IPOs estão com a reputação gravemente comprometida. A impressão que se tem é que a razão de ser dos IPOs é encher os bolsos dos atuais proprietários da empresa. Os investidores estão sendo passados para trás, com preços fixados a níveis altos demais e atenção insuficiente em assegurar um mercado secundário lucrativo.
 
O fracasso do IPO do Facebook nos Estados Unidos está gravado na cabeça do investidor do mundo inteiro; as ações da rede social ainda estão valendo um terço menos que o preço de lançamento de maio, de US$ 38.
 
Das principais ações lançadas em Londres desde o início de 2010, mais da metade está sendo negociada por valor inferior ao preço de lançamento, segundo dados reunidos pela Deloitte. “Lá se foi o tempo em que alguma coisa era posta em consideração e tanto dirigentes de bancos quanto investidores adotavam uma perspectiva de mais longo prazo. Estamos num mundo diferente”, diz Paul Woolley, professor-visitante-sênior da Faculdade de Economia de Londres.
 
A culpa não é só dos dirigentes dos bancos de investimentos. Os investidores são acusados de esperar uma disparada de muito curto prazo. Os europeus continentais, cansados das pressões dos mercados de capitais, têm problemas em reduzir os preços para deslanchar um IPO.
 
Mas os participantes do mercado de IPOs são receptivos a incentivos. A incerteza macroeconômica numa era de taxas de juros baixas estimulou o curto prazo. As transações de alta frequência computadorizadas podem ter convencido os investidores potenciais de que o sistema está voltado contra eles ao corroer as oportunidades de lucro e a liquidez. “É como se tivéssemos soltado bactérias devoradoras de carne no mercado”, diz David Weild, especialista em bolsa da Grant Thornton. “A carne são os “broker dealers” intermediários que apoiavam empresas com alto potencial de crescimento.”
 
Ao mesmo tempo, os investidores foram estimulados pela aparente “morte das ações” a migrar para os bônus. Enquanto as divisões de ações dos bancos lutam para obter negócios, seus departamentos de bônus corporativos estão usufruindo de um renascimento.
 
Com a emissão de bônus não há necessidade de desenvolver relações entre emissores e investidores. Todo mundo sabe que a essência do jogo é obter financiamento ao menor preço possível. Mas as ações não podem substituir os bônus no financiamento corporativo. Os IPOs exigem marketing e uma história sobre o futuro. Dizem respeito a assumir parte de uma propriedade. Para revitalizar o mercado de IPOs, os Estados Unidos tomaram medidas para liberalizar os trâmites, principalmente para empresas estreantes, e o Reino Unido está adotando iniciativas semelhantes.
 
Nos últimos doze meses, além disso, os bancos reexaminaram seu enfoque no segmento dos IPOs, vendendo lotes menores e reduzindo os cronogramas. O objetivo é tentar reconstituir a confiança.
 
“Quando você convida pessoas novas para ir à sua casa, quer ser legal com elas”, diz um veterano em IPOs. De forma estimulante, os volumes de IPOs revelaram uma aceleração modesta nos últimos meses, sendo a Megafon parte dessa tendência. Mas um renascimento de longo prazo exigirá mais do que simplesmente os dirigentes dos bancos serem um pouco mais legais.
 
Fonte: Valor Econômico/ Financial Times/ Ralph Atkins – 03/12/2012

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