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A deterioração do ambiente externo deve ajudar a aliviar as pressões sobre a inflação doméstica e, assim, já se desenha o consenso de que a taxa Selic não voltará a subir, como esperava boa parte do mercado. Todos os analistas consultados pelo Valor que previam ainda uma ou duas doses de aperto monetário este ano reviram suas previsões e, agora, veem juros estáveis nos próximos meses. Quem já trabalhava com a ideia de manutenção da Selic nos atuais 12,50% mantém a previsão.

Por enquanto, entretanto, nenhum economista considera que haja espaço para queda da taxa Selic em 2011 e nem mesmo no início de 2012. Isso porque não se enxerga indícios de que a atual turbulência terá a mesma intensidade da vivida no final de 2008, quando a quebra do banco Lehman Brothers secou a oferta de crédito no mundo – circunstância que exigiria uma medida de alívio monetário forte e imediata. Existe, sim, a expectativa de que o próximo movimento de política monetária seja de corte de juros. Mas, por causa da perspectiva de que a inflação ainda levará meses para convergir para o centro da meta, a queda da Selic deve ocorrer apenas no segundo semestre de 2012 – a menos que haja um agravamento das condições de crédito, o que é considerado menos provável pelos economistas.

“Não enxergo algo parecido com 2008 e, por isso, no nosso cenário a Selic cai só no final de 2012. Mas é fato que a economia mundial crescerá menos, provocando efeitos diretos de alívio na inflação”, afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Antes do clima externo piorar, ele esperava que o BC elevaria a Selic mais duas vezes este ano, elevando a taxa para 13% ao final do ano. Agora, sua previsão é de estabilidade. Isso porque, com a economia global crescendo menos, o PIB aqui pode ter um avanço mais modesto – ele reviu sua projeção de 3,4% para 3% este ano e de 4% para 3,7% em 2012.

Atento ao desgaste dos bancos no mercado internacional nos últimos dias, Deiwes Rubira, sócio-diretor da Verus Gestão de Patrimônio, projeta estabilidade da Selic até o fim de 2012 por considerar que, mesmo com a piora externa, seria precipitado o BC cortar a Selic. Ele considera que uma ação muito rápida poderia passar a mensagem de insegurança do BC quanto ao cenário econômico. “Como os bancos lá fora estão apanhando muito, abrindo a possibilidade de um estrangulamento na liquidez, o BC deveria agir primeiro nos compulsórios sobre depósitos, reduzindo alíquotas de recolhimento que foram elevadas. Essa é uma maneira de garantir equilíbrio ao sistema bancário doméstico que tende a seguir o sistema internacional e procurar aumentar o colchão de liquidez para enfrentar dificuldades mais à frente. Num segundo momento, aí sim, o BC reduziria a Selic.”

Já David Beker, chefe de economia e de estratégia para o Brasil, defende que o BC recorra logo ao corte de juros caso observe uma deterioração do mercado de crédito no exterior. Somente depois disso, se necessário, promova alívio de compulsório e, então, adote medidas fiscais. “Acho que o primeiro instrumento a ser usado é o corte de juros. Senão, ele pode acabar complicando outros problemas, como a questão cambial”, afirma. De todo modo, Beker, que espera que a Selic fique estável este ano e sofra uma redução de 0,5 ponto somente em 2012, considera “muito cedo” para mexer nas projeções. “Não vemos ainda problemas no mercado de crédito, que foi onde houve o contágio mais brusco em 2008 e levou os governos a implementar estímulos jamais vistos anteriormente”, observa.

O economista Flavio Serrano, do BES Investimento, já trabalhava com a ideia de manutenção da taxa Selic em 12,50% até o ano que vem, por causa dos sinais que o próprio BC vinha emitindo, e não por acreditar que essa seria a melhor decisão. Agora, ele acredita que o agravamento da crise vai, de certa forma, ajudar a evitar consequências negativas dessa decisão sobre a inflação. “Achávamos que o BC iria parar de subir os juros antes da hora e deixaria a inflação flutuar acima do centro da meta”, afirma. Agora, com a perspectiva de uma economia global mais frágil, essa decisão fica adequada. Serrano espera que o BC volte a cortar a Selic em 2012, com duas doses de 0,5 ponto: em outubro e dezembro. “A crise pode gerar alguma contração do lado da indústria, mas o consumo continuará forte, pesando sobre a inflação de serviços, que é neste momento a mais preocupante”, explica.

Zeina Latif, economista-chefe do Grupo RBS, também trabalha com estabilidade da Selic em 12,50% até dezembro e mantém, por ora, a projeção de corte da taxa em 0,50 ponto percentual somente no quarto trimestre de 2012. Ela aguarda mais informações sobre os desdobramentos da crise para alterar o cenário, mas reconhece que a redução poderá ocorrer mais cedo, talvez no primeiro semestre. “As variáveis chave são o comportamento do crédito e das commodities. Num quadro de queda de exportações, moderação adicional do crédito e piora de confiança dos empresários afetando decisões de investimento, o PIB poderia crescer menos neste ano, entre 3% e 3,5%, trazendo equilíbrio mais rápido entre demanda e oferta. Esse cenário associado a preços de commodities em queda poderia levar o BC a cortar os juros no primeiro semestre”

Elson Teles, economista-chefe da Máxima Corretora, também está na lista dos que abandonou a previsão de alta de juros, em 0,25 ponto, ao fim deste mês, junto com os economistas do J.P.Morgan. Já Luciano Rostagno, economista-chefe da Capital Markets, que também esperava alta de 0,25 ponto em agosto, abortou essa alta. Mas já considera, porém, que o BC pode ter espaço para cortar a Selic em cerca de um ponto percentual a partir do segundo trimestre de 2012. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, vê abrandamento da política monetária, com redução da Selic possivelmente em 0,25 ponto, iniciando em julho de 2012.

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