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As captações brasileiras no exterior praticamente pararam em fevereiro, após cerca de cinco meses repletos de novas emissões de dívida, principalmente de bônus das chamadas empresas “high yield” (com perfil de dívida mais arriscado e que pagam rendimentos mais altos). No mês foram registradas apenas duas operações. Juntas, JBS e Gol levantaram US$ 700 milhões, uma queda de 85% em relação ao volume total captado por bancos e empresas do país em janeiro.
 
A desaceleração é ainda maior, de cerca de 94%, na comparação com fevereiro do ano passado, quando as ofertas totalizaram US$ 11,650 bilhões – cifra impulsionada pela maior captação de 2012, de US$ 7 bilhões da Petrobras. Neste ano, a ausência no mercado de grandes nomes como o da estatal de petróleo acabou comprometendo o balanço.
 
Eduardo Freitas, co-chefe de mercados de dívida do Citi no Brasil, ressalta que os grandes emissores brasileiros que costumam recorrer com frequência ao mercado externo fizeram boas operações ao longo do ano passado a custos baixos, e estão com os caixas cheios. Na categoria estão, além de Petrobras, nomes como Vale, Braskem e Odebrecht e os grandes bancos, como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú. Com o crescimento fraco da economia local em 2012 e o baixo número de operações de fusão e aquisição, o dinheiro captado continua parado no caixa das companhias, acrescenta Freitas.
 
Shamaila Khan, chefe da área de dívida corporativa para mercados emergentes da gestora americana de recursos AllianceBernstein, afirma que o desempenho pior dos títulos de empresas brasileiras classificados como “investment grade” (de baixo risco de crédito), em relação não só aos demais emergentes mas também ao mercado americano, acabou segurando os grandes emissores. No pano de fundo, segundo a especialista, está tanto a onda de venda de títulos soberanos, como os Treasuries (do governo americano), como a performance ruim de alguns papéis corporativos no mercado secundário como os de Petrobras e Vale.
 
A expectativa, no entanto, é que esses nomes acabem voltando ao mercado em algum momento em função de seus programas anuais de investimento, acrescenta Shamaila. Ela lembra ainda que a concentração de feriados no mês, como o Carnaval no Brasil, o Dia do Presidente nos Estados Unidos e o Ano Novo Lunar na China, também prejudicou o ritmo de operações, assim como a safra de divulgação dos resultados anuais.
 
Banqueiros e investidores ouvidos pelo Valor afirmam que o apetite por novos títulos ainda é perceptível lá fora. Mas os emissores que forem a mercado a partir de agora terão de considerar um cenário menos otimista e pagar prêmios melhores para conquistar compradores. “O mercado está geralmente aberto para operações de Brasil. Mas a expectativa de taxas [para os emissores] passa a ser diferente do que era no começo do ano”, diz Adrian Guzzoni, que divide com Freitas a chefia da área de mercados de dívida do Citi para o Brasil.
 
No último mês, duas operações que estavam engatilhadas, da Schahin Oil & Gas e da J&F Participações, foram postergadas. Segundo fontes de mercado, emissores e investidores não entraram em acordo em relação a preço. “As empresas jogaram a taxa muito para baixo”, diz um operador do mercado de bônus no exterior. A Cosan está disposta a testar o mercado: inicia hoje “roadshow” para levantar US$ 400 milhões via emissão de bônus.
 
Brigitte Posch, vice-presidente e estrategista para mercados emergentes da Pimco, lembra que o início do ano foi marcado por muitas emissões em diferentes partes do mundo, a maior parte delas de empresas “high yield”. As que foram colocadas nas primeiras semanas tiveram um bom desempenho no mercado secundário, mas as posteriores já deram sinais de fraqueza. “Acho que houve um excesso de oferta. E, depois, vimos um movimento dos títulos do Tesouro americano. Muitos investidores que tinham posição em empresas com grau de investimento resolveram vender essas posições, o que gerou uma oferta ainda maior sem interesse de compra tão forte no momento”, diz Brigitte.
 
Essa soma de fatores, segundo ela, puxou os spreads (diferença de rendimento dos papéis e aqueles usados como referência, geralmente os Treasuries) e impactou o mercado secundário como um todo. “Os primeiros dias de fevereiro mostraram uma correção no mercado. Agora os investidores estão mais cautelosos, felizmente”, acrescenta a executiva brasileira que fica em Munique, na Alemanha, ao se referir à maior atenção que investidores têm dado ao perfil de crédito das empresas.
 
Isso não quer dizer que o mercado se fechou totalmente a emissores brasileiros ou a emergentes em geral. Devido à forte liquidez que ainda prevalece no mercado externo, a demanda não deve ser problema para novas ofertas, especialmente por ativos de empresas com bom perfil de dívida. A própria Pimco anunciou na segunda-feira um fundo voltado para a compra de títulos de dívida de países emergentes (leia mais abaixo).
 
Shamaila, da AlliansceBersntein, afirma que ainda há muito dinheiro buscando mercados emergentes de dívida corporativa e o Brasil, como um dos maiores emissores da região, sempre atrai investidores. “Como [investidores] institucionais, gostamos da governança corporativa das empresas brasileiras, gostamos do fato de haver grupos globais e de boa parte deles ter evoluído em termos de gestão de balanço.”
 
Companhias brasileiras “high yield”, acrescenta, vinham se destacando com a melhor performance do mercado de dívida em geral e seguem no topo da lista de preferência da AllianceBernstein. Em termos de setores, as apostas da gestora concentram-se em proteína (carne) e açúcar, dadas as perspectivas positivas em função do consumo crescente desses produtos e ainda dos preços dos títulos atraentes.
 
Mas, alerta a especialista, é preciso ter certeza de que há valor no investimento relativamente a outras alternativas no mercado global e buscar retornos que, de fato, remunerem o risco. Seletividade é importante, diz. Segundo ela, por conta do grande volume de dinheiro direcionado ao segmento de dívida corporativa de emergentes, pode ter havido distorções de preços, comprimindo os spreads.
 
Ainda assim, ela não enxerga grandes riscos associados a mudanças nas taxas de juros lá fora, uma vez que o “duration” (prazo de correção) dos títulos corporativos de emergentes é mais curto se comparado aos papéis soberanos desses mesmos mercados ou do segmento “investment grade” nos EUA. Para ela, ainda que não estejam imunes a uma alta na taxa de juros, esses títulos tendem a oscilar menos no mercado secundário. E tem mais gordura.
 
Fonte: Valor Econômico / Alessandra Bellotto / Filipe Pacheco – 01.03.13

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