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Para se ter uma noção para onde Wall Street está se dirigindo, é preciso fazer leitura labial. A portas fechadas, os banqueiros soam mais como membros dos Vigilantes do Peso do que valentões do mercado financeiro.
 
Eliminar o excesso de gordura, apertar o cinto e ficar em forma estão entre os clichês mais usados, substituindo mantras de outrora como: “é uma maratona e não uma corridinha”, “temos que atacar para ganhar negócios”, “respeitamos cada concorrente, mas não temos medo de ninguém”.
 
O problema vai além da retórica. Regulamentações mais rígidas, mercados difíceis e acionistas descontentes estão forçando os bancos dos Estados Unidos e da Europa a diminuir de tamanho e estreitar o foco.
 
Essa é a explicação dada por Brady Dougan, diretor-presidente do Credit Suisse AG, a seus acionistas no mês passado: “Ao longo de 2012, transformamos drasticamente todos os nossos negócios, reduzimos substancialmente os custos, aumentamos significativamente nossa base de capital e diminuímos consideravelmente o risco.”
 
A tendência tem sido bem acolhida pelos reguladores e investidores porque reequilibra a expansão exagerada, tanto em termos de geografia quanto de ativos, que precedeu a crise financeira.
 
Mas nem tudo é perfeito. Um olhar mais atento à onda de desinvestimentos mostra um efeito colateral preocupante: a balcanização do financiamento ao longo de linhas nacionais, com consequências negativas para poupadores, empresas e investidores.
 
Grupos financeiros de todo o mundo já venderam cerca de US$ 722 bilhões em operações e ativos desde 2007, segundo um estudo recente do McKinsey Global Institute, centro de estudos da consultoria McKinsey.
 
Até aí, tudo bem. Muitas empresas haviam inchado antes do crash de 2008 e investido em operações de rentabilidade duvidosa e fora de suas principais áreas de atuação. (Será que os bancos franceses realmente precisam ter em carteira bancos na Grécia e Egito? E os bancos de Wall Street deveriam administrar cassinos?)
 
Quase metade do total das vendas desde a crise veio de desinvestimentos de operações estrangeiras.
 
Isso é particularmente verdadeiro para a Europa, onde a crise de dívida soberana levou os bancos a liquidar ativos com a velocidade de um raio.
 
À primeira vista, essa é uma trajetória animadora – os bancos estão se livrando das “distrações estrangeiras” para se concentrar no que realmente conhecem: seus mercados domésticos.
 
Mas pense nisto. Os fluxos internacionais de dinheiro – de empréstimos a investimentos estrangeiros diretos e compras de ações e títulos de dívida – explodiram entre 1980 e 2007, atingindo um auge de US$11,8 trilhões pouco antes da crise, de acordo com a McKinsey.
 
Desde então, eles caíram e agora estão num patamar cerca de 60% abaixo de seu pico.
 
Metade desse colapso dos fluxos financeiros globais se deve a uma queda na concessão de empréstimos internacionais. Em outras palavras, os bancos vêm fechando os portões nacionais, recusando-se a emprestar para fora de suas fronteiras.
 
“É um redesenho das linhas e uma reorganização da paisagem bancária global”, diz Susan Lund, sócia do McKinsey Global Institute.
 
A globalização tem muitos inimigos, mas é difícil argumentar que uma queda tão acentuada na capacidade dos bancos de lubrificar as engrenagens da economia mundial seja positiva. Os consumidores e as empresas não serão capazes de obter crédito como no passado e as economias vão se expandir de forma mais lenta, por causa da escassez de capital externo.
 
A abatida União Europeia leva a maior parte da culpa, mas nenhum outro país, nem mesmo os EUA, foi capaz de preencher a lacuna financeira deixada pela debandada europeia.
 
Os efeitos da escassez de empréstimos internacionais ainda não são totalmente visíveis, em grande parte porque as empresas estão com o caixa bem abastecido e não têm pressa de investir neste ambiente de lentidão econômica.
 
Mas muitas das torneiras que foram fechadas – como os bilhões de dólares de fundos do mercado monetário emprestados aos bancos franceses, ou o que já foi um enorme volume de securitizações -não serão reabertas mesmo que a economia melhore.
 
Não é de surpreender o fato de os banqueiros estarem culpando os reguladores pela situação. Num discurso ano passado, Douglas Flint, presidente do conselho do HSBC PLC, lamentou o foco dos reguladores nas operações domésticas, chamando-o de “uma forma de protecionismo”.
 
Essa crítica é justificada. Os reguladores estão cuidando de seus quintais porque a crise mostrou que um sistema financeiro interligado é vulnerável a choques, não importa onde eles ocorram.
 
Mas isso não é a história toda. Os bancos estão encolhendo seus balanços e se desfazendo de ativos estrangeiros porque é mais fácil aumentar os lucros e o capital dessa maneira do que enfrentando a ira de empregados com drásticos cortes salariais ou irritando acionistas ao diluir valor com venda de ações.
 
Seja qual for a razão, para que a recuperação da economia mundial ganhe velocidade, ela vai precisar que banqueiros e reguladores saiam de suas trincheiras domésticas.
 
Fonte: Valor Econômico / Francisco Guerrera – 27.03.13

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