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Ao contrário do que se pode imaginar, um dos grandes desafios da Vale nos últimos tempos não foi na mineração. O problema era quase linguístico. A questão era como a mineradora conseguiria fazer com que as receitas da crescente operação internacional (que inclui países como Malásia, Cingapura e Austrália) falassem o mesmo idioma. Após uma concorrência entre cerca de vinte bancos, coube ao Deutsche Bank a gestão de fluxo de caixa das operações da Vale na Ásia e na Europa.
 
“Precisávamos evitar o trabalho manual que trouxe grandes erros no passado”, disse Marcelo Habibe, gerente geral de tesouraria e planejamento financeiro da Vale. “Algumas transações pequenas em moedas estrangeiras ficaram automatizadas e eletrônicas e isso tem nos ajudado muito.”
 
Para o Deutsche Bank, a importância de fazer a gestão do fluxo de caixa de empresas como Vale não está restrita apenas à comissão ganha com esse tipo de operação (chamada de “cash management”, em inglês). Assim como outras instituições financeiras, o Deutsche tem reforçado a divisão de “cash management” em preparação para as novas – e mais rígidas – regras de exigência de capital para instituições financeiras, que devem entrar em vigor no Brasil no ano que vem.
 
“As regras de Basileia 3 vão exigir que os bancos separem mais capital para operações de financiamento, o que encarece os empréstimos”, afirma Shahrokh Moinian, chefe da área de “trade finance” e de “cash management” do Deutsche Bank.
 
“Vai ficar mais difícil para os pequenos fornecedores terem acesso a financiamentos bancário barato. Isso vai acabar fazendo com que as empresas busquem formas de se financiar dentro da cadeia produtiva, com outras empresas”, afirma Moinian.
 
É justamente para se manter “dentro” das operações de crédito fora dos bancos que as instituições financeiras estão investindo em gestão de fluxo de caixa de empresas. “Como temos o “contas a receber” do cliente, fazemos o desconto de recebíveis para dar liquidez aos fornecedores dele. Essa é uma transação comercial, não é um passivo bancário”, diz Ricardo Henrique Russo, superintendente executivo de vendas de “cash management” e crédito para empresas do Santander.
 
“É uma forma de termos acesso aos clientes dos nossos clientes. Isso é importante não só no contexto de Basileia 3”, afirma Cristiana Pires, que comanda a área de global transaction services (GTS) do Citigroup no Brasil. Além da gestão de caixa de empresas, governos e bancos, a área de GTS cuida, por exemplo, de financiamento do comércio internacional.
 
A regulação bancária mais rígida favorece o foco em “cash management”, mas não é o único fator que vem ajudando no crescimento da área. Outros aspectos incluem a internacionalização das empresas brasileiras, combinada com a busca das instituições financeiras por receitas que não estejam diretamente ligadas a financiamentos, e que possam amortecer o impacto de períodos de crise.
 
No Deutsche Bank, a área que abriga, entre outras, as operações de “cash management” representou 30,2% do lucro bruto do banco no terceiro trimestre deste ano, que foi de US$ 1,1 bilhão. No Citi, o braço de “serviços transacionais”, como é chamado, representou 20,4% do lucro da instituição (US$ 4,1 bilhões para a operação Citicorp) no mesmo período. Na América Latina, o lucro dessa área no Citi alcançou US$ 286 milhões.
 
“As operações de gestão de fluxo de caixa trazem um colchão de fluxos permanentes de funding para operações bancárias”, diz Leonardo Ribeiro, superintendente de produtos de “cash management” do Santander.
 
A verdadeira torre de Babel dos sistemas de pagamentos espalhados pelo mundo tem um custo severo no balanço de quem quer virar multinacional, calcula o Deutsche Bank. Moinian cita um estudo que estima em US$ 25 milhões ao ano o custo de uma empresa para manter cada formato necessário para interagir com os sistemas de pagamento e compensação de cada país. “Como são cerca de 60 sistemas diferentes pelo mundo, o custo fica significativo”, diz.
 
A concorrência acirrada tem forçado os bancos a inventar novos serviços na área. É o caso do Santander, que conta com uma ferramenta recém-lançada que faz uma espécie de acompanhamento “tempo real” dos bloqueios judiciais da empresa. “Entregamos uma espécie de extrato dos bloqueios judicais do cliente, com base nos dados do Banco Central”, explica Ribeiro. “Hoje, as empresas às vezes nem sabem qual processo foi bloqueado e às vezes dinheiro liberado fica parado em bloqueio.”
 
No Citi, Pires avalia que um dos diferenciais são os serviços re reconciliação entre gastos e despesas e, em alguns casos, até cobrança de fornecedores. O banco também chega a fazer até uma espécie de “terceirização da tesouraria” das empresas.
 
Fonte: Valor Econômico / Felipe Marques – 14/12/12

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