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A inadimplência bancária no Brasil bateu novo recorde em maio e cristaliza uma tendência que custa se inverter, a despeito das campanhas do governo para fomentar o consumo pelo crédito. As operações com pagamentos em atraso há mais de 90 dias atingiram 6%, ante 5,9% em abril. O aumento se deu em várias modalidades. Mas especialmente em duas, a inadimplência também alcançou o maior patamar da série histórica do BC desde 2000: no crédito para compra de veículos chegou a 6,1%, e, nos financiamentos de faturas de cartão de crédito, o rotativo, a 29,49%.

 
O levantamento toma como base o saldo usado como referência pelo Banco Central (BC) para acompanhamento das taxas de juros, universo que representa metade do estoque.
 
Embora estejam abaixo do que já foram, as taxas de inadimplência das linhas para aquisição de outros bens e a do cheque especial também subiram, chegando, respectivamente, a 13,9% e a 11,3%.
 
Os dados foram divulgados ontem pelo BC, que detectou ainda redução de 2,2 pontos percentuais na taxa média de juros. O juro ao tomador final caiu para 32,9% ao ano, outro recorde, por ser o menor nível da série. O spread, que é a diferença em relação à taxa de captação dos bancos, também caiu, para 24,7% ao ano.
 
Os números vieram acompanhados da notícia de que, pela primeira vez, o crédito total no Brasil ultrapassou 50% do Produto Interno Bruto. Em abril, já estava em 49,6% do PIB.
 
Há meses que a inadimplência das chamadas operações referenciais de crédito vem crescendo, sobretudo a da clientela de pessoas físicas (8% em maio). Ao comentar os números, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, repetiu o discurso dos meses anteriores e disse que o percentual tende a recuar. A diferença é que, desta vez, ele falou em recuo até o fim do ano e não mais no segundo semestre, como vinha defendendo, o que pode indicar certa resiliência.
 
Mesmo subindo em maio, a taxa de inadimplência dos financiamentos de outros bens ficou abaixo dos 14% registrados em janeiro, que também não foi o maior percentual da série. O pico recente da inadimplência nessa modalidade ocorreu em maio de 2009, quando alcançou 15,8%.
 
O crédito para aquisição de outros bens é mais arriscado, mas é muito menos representativo em termos de volume. O saldo dessas operações cresceu 0,4% em maio e 2,6% em 12 meses, encerrando o mês em R$ 9,35 bilhões. Já o estoque de financiamentos para compra de veículos terminou maio em R$ 178,5 bilhões. No mês, houve aumento de apenas 0,2%. Mas em 12 meses, a expansão chegou 15,1%. O saldo dos financiamentos de faturas de cartão de crédito, por sua vez, alcançou R$ 37,7 bilhões.
 
Maciel informou que os números de junho, ainda em apuração pelo BC, deverão mostrar um incremento mais forte do saldo do crédito ao setor automotivo, por causa das medidas de estímulo adotadas pelo governo em 21 de maio. Uma delas, a redução do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI), atinge diretamente as vendas. A outra atinge diretamente as operações de crédito, pois implica liberação de R$ 18 bilhões do compulsório dos bancos sobre depósitos a prazo.
 
Os dados de maio não refletiram os estímulos até porque só foram anunciados na terceira semana do mês. Principalmente, as concessões serão mais expressivas nas estatísticas de junho. Em maio, pelo critério de média diária, o fluxo de crédito novo para veículos subiu 2,8%, situando-se em R$ 347 milhões. Para Maciel, esse ritmo está dentro da normalidade.
 
Ao prever recuo da inadimplência nesse segmento, ele argumentou que, pela primeira vez neste ano, houve queda da participação das operações com pagamentos em atraso de 15 a 90 dias, indicador antecedente da taxa de inadimplência, que leva em conta atrasos acima de 90 dias.
 
A recente queda mais pronunciada das taxas de juros, o que barateia o crédito, também contribuirá para reduzir a inadimplência, não apenas dos financiamentos de automóveis, disse. Ele argumentou ainda que os atrasos de agora são consequência da “safra” de crédito de 2010, quando o crédito total registrou taxa de expansão de 20,6% e as operações de financiamentos de veículos aumentaram 50%. As “safras” seguintes foram melhores, pois os bancos ficaram mais seletivos, ponderou Maciel. Ele acrescentou que, mesmo tendo crescido, a inadimplência não ameaça a saúde dos bancos, que mantêm provisões para créditos ruins em montante acima do exigido.
 
Medida em relação ao crédito total do sistema financeiro, a inadimplência manteve-se em 3,8% em maio. Essa é a média do sistema. Nos bancos públicos, o percentual é mais baixo, de 2%, enquanto nos bancos privados é mais alto e chega a 5,3%.
 
O boletim mensal do BC sobre operações de crédito mostrou ainda elevação de 1,5% na média diária de concessões de novos empréstimos e financiamentos, considerando apenas o crédito referencial para mensuração de juros. Em relação a maio de 2011, houve aumento de 10,5%. A prévia de junho, que considera operações dos primeiros 10 dias úteis, indica queda da média este mês, de 0,4%. A redução será puxada pelas operações com empresas, cuja prévia acusou média 1,3% menor que a dos 10 primeiros dias úteis de maio. No caso das pessoas físicas, o BC detectou elevação de 0,9%. Os dados prévios de junho também apontam para novas reduções nas médias das taxas de juros.
 
O estoque total de crédito – em relação ao qual o BC não calcula concessões -, subiu 1,7% no mês, fechando maio em R$ 2,136 trilhões. Na avaliação de Maciel, esse não é um ritmo moderado, pelo menos não para meses de maio. Em 2011, ano em que o crédito registrou expansão de 19%, o aumento em maio foi de 1,5%, comparou. O comportamento do saldo em maio “sugere uma retomada do crédito após um arrefecimento”, disse ele, referindo-se à queda vista em janeiro e ao crescimento menor em fevereiro (0,45%) e abril (1,3%). Somente em março, o desempenho foi melhor, chegando a 1,9%.
 
Para 2012, o BC manteve em 15% a projeção de crescimento do estoque total de operações de crédito do sistema financeiro, o que representa desaceleração em relação a 2011. Com o baixo crescimento da economia, no entanto, a relação crédito/PIB, que estava projetada em 51%, deverá fechar o ano em 52% pela nova projeção.
 
Fonte: Valor Econômico/ Mônica Izaguirre/ Murilo Rodrigues Alves – 27/06/2012

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