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Há uma sensação de volta para o futuro na economia mundial. A única pergunta é: De volta para que futuro? A resposta óbvia, considerando os acontecimentos da semana passada, é os anos 70. Há hoje muitos sintomas da instabilidade cambial, inflação e desemprego em alta e incertezas políticas que marcaram aquela problemática década.
 
No fim de semana, os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais dos países industrializados do Grupo dos 20 tentaram abrandar o receio de novas guerras cambiais que enervou os mercados desde a eleição, no mês passado, do novo governo do Japão. O Banco da Inglaterra se tornou recentemente o último banco a relaxar sua política monetária ao abandonar oficialmente sua antiga meta de trazer a inflação para 2% em dois anos. Enquanto isso, o produto interno bruto da Europa encolheu mais que o previsto no quarto trimestre de 2012, gerando novas dúvidas sobre quando a recessão vai acabar.
 
Mas não é preciso muita imaginação para também enxergar hoje os vestígios de uma década muito diferente: assim como no começo dos anos 90, a dinâmica ora prevalente nos mercados é uma busca desesperada por retornos mais altos, fazendo inflar possíveis bolhas nos mercados globais. Da mesma forma que, naquela década, o banco central americano afrouxou sua política monetária na esteira do estouro da bolha da internet, hoje os bancos centrais estão novamente inundando o mundo com dinheiro fácil na tentativa de tirar a economia da pasmaceira atual. E, nos últimos dez anos, ficou claro que toda essa liquidez está inflacionando ativos ainda que a inflação ao consumidor continue baixa, provocando temores sobre bolhas em ativos tão diferentes quanto imóveis da Suíça, Canadá e Londres, ações de empresas de mercados emergentes e títulos de dívida de firmas europeias.
 
Ao mesmo tempo, alguns acreditam que a proposta de compra, por US$ 28 bilhões, que Warren Buffett fez pela Heinz talvez marque o início de um novo boom gigante de aquisições alavancadas. Sob essa análise, as sementes da próxima crise financeira poderiam estar sendo plantadas antes mesmo do fim da crise anterior.
 
Então, com que década passada a atual mais se parece? A verdade é que previsões de uma guerra cambial nos moldes da dos anos 70 soam prematuras. É verdade que a declaração do G-20, concebida para acalmar os ânimos, foi branda e não convenceu. O grupo reconheceu que “o excesso de volatilidade dos fluxos financeiros e as oscilações desordenadas das taxas de câmbio têm efeitos adversos na estabilidade econômica e financeira” e fez os governos se comprometerem a “evitar desvalorizações” com o intuito de ganhar vantagens comerciais.
 
Mas isso ainda deixa muito espaço para futuras desvalorizações, já que elas ocorrem como um subproduto casual da política monetária doméstica, conduzida por razões domésticas, e não como uma tentativa de “dimensionar nossas taxas cambiais por razões competitivas”.
 
De fato, o debate mundial sobre o câmbio é cheio de artimanhas. Os Estados Unidos foram o primeiro país a ser acusado de promover uma guerra cambial, quando o Brasil se opôs à segunda rodada de relaxamento quantitativo do Federal Reserve em 2011, a qual foi amplamente vista como uma tentativa patente de desvalorizar o dólar.
 
O novo governo japonês pode agora alegar que o imenso estímulo monetário e fiscal que prometeu tem como única meta impulsionar a economia doméstica, mas ele não escondeu o desejo de ver o iene se desvalorizar. Do mesmo modo, o presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, tem manifestado abertamente sua opinião de que uma nova desvalorização da libra esterlina, a se somar à queda de 20% que a moeda já sofreu desde o começo da crise financeira mundial, é necessária para reequilibrar a economia – ainda que ele alerte que outros países podem realizar desvalorizações competitivas.
 
Ainda assim, há boas razões para crer que as discussões sobre guerras cambiais, no momento, são só conversa. Primeiro, é difícil argumentar que alguma economia avançada tenha até hoje garantido uma vantagem competitiva significativa através de taxas de câmbio. Mesmo depois da desvalorização de quase 20% do iene este ano, a moeda japonesa ainda está sendo negociada no seu nível de longo prazo, já que foi consideravelmente supervalorizada nos últimos anos ao se tornar um porto seguro para capitais fugindo da crise do euro. De modo semelhante, a ascensão recente do euro não é nada favorável ao crescimento e vem causando ansiedade em alguns países da Europa, mas a moeda também ainda está no seu nível de longo prazo em relação do dólar.
 
A exceção é o Reino Unido, que acabou escapando da censura internacional apesar de ter tido a maior desvalorização de todas as principais moedas – talvez porque o país tenha aparentemente se beneficiado tão pouco dela.
 
Além disso, é difícil hoje em dia ganhar uma guerra cambial. Enquanto a inflação mundial continuar baixa, as estimativas de capacidade ociosa permanecerem altas e os bancos centrais estiverem dispostos a ignorar picos temporários de inflação, todo país terá acesso à arma de combate principal: políticas monetárias extremamente frouxas.
 
De fato, a valorização anterior do iene reflete em parte a relutância do Banco do Japão em expandir sua carteira tanto quanto o Federal Reserve, o Banco da Inglaterra ou o Banco Central Europeu. Ao mesmo tempo, a proibição mundial de desvalorizações competitivas parece assimétrica; países que intervieram para impedir a valorização de suas moedas, como a Suíça, até agora escaparam à censura.
 
Mas, se o preço de evitar guerras cambiais é uma política monetária ainda mais frouxa, isso traz um outro tipo de risco. A forma com que as autoridades econômicas responderão a possíveis novas bolhas nos preços de ativos será crucial para se determinar se o resto da década será um replay dos anos 70, 90 ou algo mais benigno.
 
Nessa linha, talvez o desenrolar mais interessante tenha sido a decisão, semana passada, do Banco Nacional da Suíça de impor requisitos extras de capital contra a exposição dos bancos ao mercado imobiliário doméstico. Isso foi uma das primeiras tentativas de um banco central de testar uma grande ideia nova no mundo pós-crise: uma regulamentação macro prudente. Se ela conseguirá esfriar os aquecidos mercados, ainda não se sabe.
 
E também não se sabe até que ponto os outros bancos centrais estão preparados para usar esses novos poderes. Afinal, bancos centrais até aqui foram em grande parte favoráveis a aumentar preços de ativos para restabelecer a confiança e veem os juros baixos como um incentivo para o investimento. Na falta de um apoio político em casa, as autoridades teriam que ser muito corajosas para argumentar que preços de ativos em alta criam o risco de uma nova alocação inadequada de capital baseada em dívidas.
 
Fonte: Valor Econômico / Simon Nixon / The Wall Street Journal – 19.02.13

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