Um mapeamento das famílias endividadas em São Paulo e no Rio mostra que 46,5% delas fizeram uma dívida nova para pagar uma antiga. Entre esse grupo de consumidores, é comum os que se desfazem de carros, máquinas de lavar, jogos eletrônicos e joias para conseguir quitar ou renegociar o quanto devem.
Para pagar as dívidas ativas que possuem, as famílias comprometem, em média, 42% de sua renda.
Os resultados constam de pesquisa feita pela Proteste – Associação de Consumidores, com 200 famílias, e foram encaminhados ao governo, ao Banco Central e à Febrabran (Federação Brasileira de Bancos) para discutir os impactos do crescimento da oferta de crédito e seus riscos.
“A intenção é encaminhar os dados ao G20 [grupo dos 20 países economicamente mais poderosos], que abriu espaço para debater temas financeiros, e pedir a aprovação de propostas para coibir práticas abusivas dos bancos”, diz Maria Inês Dolci, coordenadora da Proteste.
A falta de planejamento familiar aliada à facilidade de obter crédito e às taxas elevadas de juros cobradas no mercado impulsionam o endividamento.
A renda média das famílias pesquisadas foi de R$ 2.401 e as dívidas, de R$ 1.009,45. A maior parte dos entrevistados (56,6%) deve até R$ 500. Mas quase 40% têm débitos acima de R$ 5.000.
Um dos principais responsáveis pelo endividamento é o uso do cartão de crédito sem o pagamento integral da fatura do mês -principalmente entre consumidores da classe C.
Oito em cada dez famílias entrevistadas gastam, em média, até R$ 500 no cartão, mas 38,1% delas não conseguem pagar a fatura à vista.
“Caem em um labirinto de endividamento, o que prejudica o crescimento do país. O rotativo é uma das modalidades que afetam diretamente a qualidade de vida das famílias porque os juros são extorsivos”, diz Maria Inês.
Os juros do cartão de crédito no Brasil chegaram a 323,14% ao ano e superaram os de países da América Latina, de acordo como dados da Proteste de julho.
Outro indicador chama a atenção. A inadimplência do consumidor cresceu 17,8% no acumulado de janeiro a julho deste ano ante igual período de 2011. Na comparação de julho com junho deste ano, a taxa caiu 1,5%, segundo a Serasa Experian.
Fonte: Valor Econômico/ Claudia Rolli – 15/08/2012