O robusto volume de recursos que o Brasil atraiu do exterior em anos recentes começa a ser visto como risco para o crescimento do país caso mudanças no contexto internacional levem a uma freada brusca desses fluxos.
Uma preocupação que vem sendo citada por analistas de fora é o salto nas dívidas contraídas pelo setor bancário no mercado internacional.
O passivo (dívida) externo dos bancos dobrou entre o fim de 2009 e setembro de 2011, saltando para o equivalente a R$ 313 bilhões.
Parte desses recursos captados a taxas de juros baixas no exterior tem sido usada para atender a demanda por crédito de consumidores e empresas brasileiras.
“A emissão de dívidas fora tem sido uma fonte de recursos usada pelos bancos para ajudar a sustentar a expansão de crédito no Brasil”, diz Richard Hamilton, chefe de análise da América Latina da consultoria BMI (Business Monitor International).
Em relatório recente, o banco Morgan Stanley incluiu o Brasil em um grupo de países emergentes mais vulneráveis a uma mudança no contexto externo.
O interesse do investidor de fora pelo Brasil tem feito a economia do país como um todo -não só o setor bancário- acumular passivos em moeda estrangeira.
Uma medida disso é a evolução do balanço entre o estoque de ativos e passivos em moeda estrangeira (chamado de posição líquida de investimentos) do país.
A posição historicamente devedora do Brasil disparou em anos recentes e atingiu US$ 746 bilhões no fim do ano passado, quase o triplo do valor de 2001.
“Essa posição de devedor líquido do Brasil cresceu muito e é provavelmente o maior risco econômico para o país”, afirma Hamilton.
Na conta de ativos, entram investimentos de empresas brasileiras no exterior e reservas acumuladas pelo BC.Já entre os passivos estão dívidas contraídas fora e investimentos de grupos estrangeiros no país.Hamilton ressalta que o saldo negativo do país tem aumentado apesar do avanço das reservas do BC.
O relatório do Morgan Stanley diz que um dos problemas que tornam o Brasil vulnerável é que “parcela não desprezível dos fluxos de portfólio entra disfarçada de IED (Investimento Estrangeiro Direto) para evitar IOF [Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros]”.
O banco faz eco a suspeitas ventiladas em 2011 de que parte do dinheiro que entrou no país como investimento direto tinha como destino o mercado financeiro.O objetivo seria pagar menos tributo.
Os recursos que entram no país como IED são considerados mais estáveis. Já os investimentos no mercado financeiro podem deixar o país rapidamente.
Fonte: Folha de São Paulo/ Érica Fraga – 01/03/2012