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A parcela de títulos de dívida privada vem crescendo na carteira dos fundos de investimento diante da tendência de queda da taxa básica de juros. Desde 2009, quando a Selic alcançou pela primeira vez o patamar de um dígito, o número de fundos dedicados a papéis privados mais do que dobrou, passando de 204 para 707.
 
O crescimento desses portfólios, que podem alocar mais de 50% do patrimônio nesses ativos, tem preocupado a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e os gestores de fundos. O principal questionamento diz respeito ao gerenciamento da liquidez. Os cotistas podem resgatar o dinheiro sem restrições de prazo, enquanto que os papéis que recheiam as carteiras não são líquidos.
 
Levantamento realizado pelo Valor, com base nos dados da Economática, mostra que 65% desses fundos – excluindo os portfólios exclusivos, restritos e com menos de 20 cotistas – não têm carência para resgate, realizando o pagamento no mesmo dia do pedido do saque. Algumas gestoras, preocupadas com esse descasamento, passaram a lançar fundos com prazo de carência.
 
Embora a maioria não invista 100% do patrimônio em ativos de menor liquidez como debêntures, cotas de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), a fatia destinada a esses investimentos tem aumentado. Na indústria de fundos como um todo, que inclui investimentos em títulos públicos, ações etc, a parcela de dívida privada passou de 21,43% do patrimônio, em dezembro de 2009, para 25% em maio deste ano.
 
A maior alocação está em letras financeiras, títulos emitidos pelos bancos, que respondem por 30,7% do total aplicado em dívida privada e já superaram a participação dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) neste ano. Embora ofereçam um retorno melhor que o dos CDBs, as letras têm um prazo de vencimento maior, acima de dois anos, e não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o que, em tese, aumenta a parcela de risco na carteira.
 
Com a Instrução nº 522, editada em maio, a CVM tem procurado ampliar o acompanhamento dos níveis de liquidez dos fundos. De acordo com a nova instrução, os gestores devem adotar políticas de gestão compatível com os prazos de resgate. “Ainda não temos o diagnóstico de que há um problema de liquidez nos fundos brasileiros, mas a conciliação entre ativo e passivo é uma questão que preocupa principalmente nas carteiras de crédito privado”, afirma Luiz Américo, gerente de acompanhamento de fundos da CVM.
 
Apesar da resistência cultural, os investidores terão que abrir mão de liquidez diária se quiserem garantir a mesma rentabilidade. Hoje, alguns bancos e gestoras já começam a adotar prazo de carência acima de 90 dias para pagamento de resgate nos fundos com maior exposição a crédito privado.
 
O Bradesco suspendeu a captação em fundos que investem mais de 50% da carteira em papéis de dívida privada e lançou duas famílias de fundos com prazo maior para resgate, um de 30 dias e um de 90 dias. “Reduzimos a exposição a esses ativos e privilegiamos os investimentos com prazo de vencimento menor e com mais liquidez como CDBs nos fundos que não têm prazo de carência”, afirma Reinaldo Le Grazie, diretor de renda fixa e multimercado da Bradesco Asset Management (Bram).
 
Nos fundos da Western Asset que têm mais de 50% do patrimônio alocado em crédito privado, a carência para pagamento de resgate já é de 121 dias. A gestora tem aplicado em debêntures, cotas de FIDCs e em letras financeiras. “A posição em FIDCs foi a que mais cresceu e vemos um amplo campo a ser explorado”, destaca Marcelo Guterman, gerente de produtos da Western Asset.
 
A BB DTVM também está preocupada em conciliar o prazo de resgate com a alocação dos ativos. A gestora lançou uma família de fundos com maior posição em crédito privado, voltada para clientes do “private banking”, que são fechados para resgate e têm prazo de duração determinado. “Nos fundos sem carência para resgate, que compõem a maior parte das carteiras, o máximo que alocamos em crédito privado é 40% do patrimônio, concentrando em ativos mais conservadores e de maior liquidez”, afirma André Abreu, gerente executivo de renda fixa da BB DTVM.
 
A negociação desses ativos no mercado secundário tem crescido, mas ainda é muito baixa se comparada com a dos CDBs que têm liquidez diária e podem ser recomprados pelos bancos. “Isso ainda não é suficiente para termos fundos com resgate no mesmo dia”, afirma Abreu.
 
Os fundos com maior exposição a ativos de baixa liquidez costumam apresentar uma rentabilidade melhor. O fundo da RF LP Cred Priv Estratégia V, da BB DTVM, fechado e com maior parcela de crédito privado, acumulava ganho de 109% do CDI em 12 meses encerrados em junho, enquanto os fundos de crédito privado abertos apresentavam um retorno de 103% do CDI.
 
“Para entregar um retorno melhor os gestores terão que olhar para alocações menos triviais em crédito privado”, afirma Arturo Profili, sócio da Capitânia. Os fundos da gestora que alocam mais de 50% do patrimônio em crédito privado já estão com prazo de carência para saque ajustado para 180 dias. O restante da carteira é mantido em CDBs de bancos de primeira linha.
 
“Temos uma política de formação de caixa nos portfólios, que vai aumentando conforme o recebimento de amortizações dos títulos e da venda dos papéis em mercado secundário”, diz Profili.
 
Mesmo oferecendo a possibilidade de um retorno mais atrativo, esses fundos com prazo de carência maior ainda enfrentam resistência de alguns investidores, incluindo fundos de pensão.
 
Fonte: Valor Econômico/ Silvia Rosa – 06/07/2012

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