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O nome é “lei das consequências involuntárias”. Em novembro, as autoridades reguladoras europeias estavam fartas de ver os fundos de hedge usando o mercado de derivativos para apostar contra governos e proibiram completamente a especulação. Mas os gestores de fundos acabaram encontrando outras maneiras de expressar o mesmo ponto de vista – desta vez de um jeito que, segundo alertam analistas, poderá aumentar os custos dos empréstimos para o setor bancário.
 
Seis meses após a proibição da compra a descoberto, como proteção, de “swaps de default de crédito” (CDS, na sigla em inglês) soberanos – em que o investidor não tem a posse do bônus soberano em questão -, está claro que as apostas negativas contra grandes instituições financeiras surgiram como uma substituição parcial. Um CDS protege o comprador contra o risco de uma companhia ou governo entrar em default (ou seja, dar calote). O instrumento vale mais se os riscos de calotes forem percebidos como maiores.
 
Os investidores estão comprando proteção sobre bancos europeus com base no fato de os bancos e os governos estarem tão intimamente ligados que qualquer aumento do risco de um calote soberano vai aumentar o valor dos CDS de um banco de maneira parecida com a dos CDS soberanos.
 
“Costumávamos ser razoavelmente ativos em CDS soberanos, mas por causa da proibição estamos usando muito mais os CDS financeiros como proteção contra o risco em nossos portfólios”, diz Ross Pamphilon, diretor adjunto de investimentos da ECM. “É a lei das consequências involuntárias. O mercado está um pouco parecido com uma grade gelatina. Se você empurra de um lado, tem uma saliência do outro”, acrescenta ele.
 
Desde a proibição, os volumes de negócios com os CDS soberanos europeus caíram bastante. No primeiro trimestre, a queda foi de 35%, a US$ 168 bilhões, em comparação ao quarto trimestre de 2012, segundo a DTCC. No mesmo período, os volumes negociados no índice iTRaxx Senior Financial Index, um dos indicadores europeus de maior liquidez envolvendo alguns dos maiores bancos da região, quase dobraram, de US$ 252 bilhões para US$ 400 bilhões.
 
Há muitas razões para os investidores quererem comprar proteção contra um calote bancário em meio a uma nova onda de incertezas sobre a zona do euro, mas analistas afirmam que a proibição dos negócios com os CDS soberanos está provocando um impacto visível sobre esses números.
 
“Os investidores têm exposições em suas carteiras que precisam proteger, de modo que quando você restringe um instrumento, eles sairão em busca de alternativas”, diz Saul Doctor, estrategista do J.P. Morgan. “A maioria dos investidores está de olho no índice de CDS financeiros como o substituto mais próximo.”
 
O problema com a migração dos contratos de CDS dos governos para os bancos, segundo analistas, é que embora isso possa reduzir a volatilidade e pressionar os mercados de dívidas soberanas, tem o potencial de elevar os custos dos empréstimos para os bancos. Isso porque os preços dos bônus corporativos levam parcialmente em conta onde os CDS estão sendo negociados, o que significa que o aumento da compra de CDS tem impacto no mundo real.
 
Este ano, o índice iTRaxx Senior Financial acumula alta de 16%, a 166 pontos-base. “O grande inconveniente da proibição é que ela provavelmente vai aumentar os custos dos empréstimos para as instituições financeiras”, diz Michael-Hampden, estrategista do Citigroup. “Não é nada bom para os bancos espanhóis e italianos os custos dos empréstimos estarem crescendo por causa de uma regulamentação europeia.”
 
Essa preocupação foi levantada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como parte de um recente relatório que alerta para os efeitos da proibição. O estudo diz que uma migração do risco para os CDS bancários “deverá ser mais cara e menos precisa”.
 
Mas nem todos no mercado estão totalmente contra a proibição. Há quem afirme que ela tirou, com sucesso, a volatilidade do mercado de CDS soberanos.
 
As autoridades reguladoras impuseram a proibição baseadas no fato de que essa volatilidade agravou a crise da dívida da zona do euro. “A única coisa que ela conseguiu é reduzir a volatilidade no mercado de CDS soberanos, deixando-o mais alinhado com o mercado de bônus de alta liquidez”, diz Sachin Gupta, gerente de portfólio da Pimco.
 
O impacto sobre as reais necessidades de financiamentos dos bancos ainda não apareceu nos dados, em parte porque a proibição coincidiu com um período de mercados em alta. As emissões de bônus bancários também estão meio fracas e eles têm acesso a dinheiro barato junto aos bancos centrais. “Os bancos podem obter financiamentos de muitas maneiras no momento, e portanto ainda não vimos um impacto significativo sobre os custos dos financiamentos por causa da proibição dos CDS soberanos a descoberto”, afirma Troy Gayeski, sócio da SkyBridge Capital.
 
Mas investidores e analistas afirmam que o verdadeiro teste poderá ocorrer durante a próxima intensificação da crise da zona do euro, em que a demanda por CDS de instituições financeiras europeias poderá, por sua vez, aumentar os custos dos empréstimos.
 
“Em um evento de estresse, grandes volumes de CDS bancários poderão levar a custos de financiamento maiores para o setor bancário, especialmente se o BCE decidir ser menos atencioso com as linhas de empréstimos de emergência”, diz Gayeski.
 
Fonte: Valor Econômico / Michael Stothard / Financial Times – 23.04.13

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