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Em meio à crise europeia, o mercado tem se afastado cada vez mais da meta de cinco milhões de investidores da BM&FBovespa. A participação de pessoas físicas no volume movimentado no mercado de ações atingiu 14,90% no fim de junho, metade da média recorde de 30,5% registrada em 2009. E quem tem sofrido com isso são as corretoras de valores.
 
As instituições têm passado por apuros para sobreviver no atual cenário, com menores receitas do sistema de compra e venda de ações pela internet e custos permanentemente elevados. Com isso, as estratégias mais agressivas para cativar clientes ficaram para trás e promoções de isenção de cobrança de taxa de custódia foram revisadas.
 
Entre 14 corretoras independentes com maior volume de negócios no segmento Bovespa e com resultados financeiros atualizados no Banco Central, 9 tiveram prejuízos no primeiro trimestre deste ano, que totalizaram mais de R$ 9 milhões, segundo levantamento realizado pelo Valor Data.
 
No acumulado de 2011, essas mesmas instituições já tinham sofrido com perdas de R$ 111,29 milhões. Os custos continuam altos e está cada vez mais difícil diluir as despesas – tanto pela fuga de aplicadores na bolsa quanto pela pressão de gastos derivados da necessidade de aprimoramento tecnológico e exigências regulatórias.
 
No mês passado, os Cadastros de Pessoa Física (CPFs) registrados nos agentes de custódia totalizaram 580.953, menos que os 583.202 do fim de 2011 e os 610.915 de 2010. No entanto, fontes do mercado estimam em apenas cerca de 130 mil os investidores ativos, que operam ao menos uma vez por mês.
 
A aposta na popularização da bolsa era unanimidade em meados da década passada, quando o número de pessoas físicas crescia fortemente. Corretoras estrangeiras decidiram desembarcar no Brasil nessa onda, enquanto as instituições independentes ampliaram seus investimentos. Mas plataformas com capacidade mais robusta, cursos e atendimento melhores custaram caro e pagar essa conta agora ficou mais difícil. Para completar, a “guerra de preços” adotada por parte das instituições pressionou ainda mais as margens financeiras do negócio.
 
Neste cenário, tem havido uma inevitável revisão das estratégias das corretoras, a começar pelas mais arrojadas, como a isenção da taxa de custódia para o investidor individual no home broker.
 
Menos de 12 meses após optar pelo fim da cobrança da taxa, a Icap desistiu da estratégia, passando a cobrar R$ 10 por mês a partir de setembro. “O momento é difícil, principalmente porque os custos continuam crescendo”, diz Paulo Levy, diretor de varejo da Icap.
 
A origem da taxa de custódia é a cobrança pela bolsa de R$ 6,90 por conta ativa na Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) e R$ 1,50 pelo acesso ao sinal de cotações do mercado.
 
A Icap, com presença em mais de 30 países e listada na bolsa londrina, ingressou no Brasil em 2009 com um plano comercial agressivo para conquistar clientes. Mas, em 2011, arcou com o maior prejuízo do segmento: R$ 64,19 milhões. No primeiro trimestre, a perda foi de R$ 5,74 milhões. O diretor-executivo no Brasil, Alan Gandelman, afirma que o resultado ainda foi reflexo da amortização da compra da corretora Arkhe em 2008, dos altos investimentos em tecnologia que têm sido feitos e de uma reestruturação realizada no ano passado, com corte de cerca de 30% da folha salarial. Ele credita que até o fim do ano atingirá o ponto de equilíbrio.
 
Segundo Gandelman, os investimentos no Brasil têm uma razão de ser: “O que estamos fazendo aqui não é corrida de 100 metros rasos, mas sim uma maratona. A empresa enxerga uma oportunidade de varejo no país, com o crescimento da classe média, e agora com a queda dos juros”, diz. Paulo Levy afirma que “todas as corretoras se prepararam para um mercado três vezes maior”.
 
Outra corretora que também não cobrava taxa de custódia e passou a cobrar dos clientes que não operarem ao menos uma vez por mês é a CGD Securities (antiga BanifInvest). “Não tínhamos mais espaço para comportar os custos sem uma contrapartida”, admite Fábio Feola, que assumiu recentemente o cargo de diretor-executivo da corretora. Nos três primeiros meses do ano, a CGD teve um prejuízo de R$ 950 mil.
 
A Gradual Investimentos é outra que já participou da guerra de preços, com a promoção “opere quanto quiser com tarifa fixa de R$ 10 por mês” anunciada no primeiro semestre de 2011. A estratégia já foi abortada. No ano passado, a corretora teve de R$ 9,62 milhões. Ao longo dos três primeiros meses do ano, a perda foi de R$ 715 mil.
 
Fernanda de Lima, presidente da Gradual, explica que o resultado negativo se deve aos altos investimentos feitos pela corretora no desenvolvimento de sistemas próprios, que somaram até R$ 4 milhões. Ela fez questão de lembrar que quando assumiu o atual cargo a Gradual sequer era profissionalizada. “Hoje a corretora tem autossuficiência em sistemas críticos. Se eventualmente a bolsa atingir os cinco milhões de investidores almejados, consigo atender 100 mil clientes”, afirma.
 
Fernanda explica que pretende crescer no segmento de banco de investimentos. “Os bancos focam nas grandes transações e não tanto nas médias. Estamos buscando esse nicho”, afirma, ao acrescentar que já possui acordos na área de consultoria com potencial de transação de R$ 2 bilhões.
 
Já a TOV decidiu direcionar os esforços aos investidores que restaram. “O aplicador que sobrou é o mais experiente, que muitas vezes compra e vende ações no mesmo dia”, afirma Carlos Fraga, diretor executivo de operações. “Recentemente, o número de clientes da TOV caiu, mas a receita por cliente aumentou”, diz. No ano passado, a corretora sofreu prejuízo líquido de R$ 8,32 milhões. Segundo a instituição, a perda foi causada por sua carteira própria de investimentos. No primeiro trimestre, teve um lucro de R$ 908 mil.
 
Mônica Saccarelli, diretora da Octo Investimentos, acredita que um caminho para as corretoras independentes seria a união. Ela revela já ter conversado com “muita gente”, mas não fez comentários adicionais. Para Fernanda, da Gradual, mesmo que possa ser benéfica, a consolidação é difícil. “Conversei com corretoras regionais, sem êxito. Alguém tem que decidir abrir mão do controle”, conta. Executivos ouvidos pelo Valor revelam que a principal barreira é o fato de se tratar de um setor de negócios familiares.
 
O dirigente de uma das maiores corretoras do país, que não quis se identificar, lembra que um dos problemas atuais é a idade do dono da corretora. “Há pessoas com 65 anos, que já ganharam muito dinheiro, especialmente quando a bolsa abriu capital. O relacionamento pesava muito, mas hoje o mercado é tecnologia e agente autônomo. As corretoras não se reciclaram a tempo”, diz.
 
A respeito dos rumores de que a Gradual estaria sendo vendida ou ainda de que ela deixará a corretora, Fernanda diz que não passam de boatos. “Como antes de assumir a corretora trabalhei durante muito tempo com fusões e aquisições, em grandes instituições financeiras, logo que passei a administrar a Gradual começaram a falar que iria vendê-la. Além disso, sou uma das poucas mulheres à frente de uma corretora”, diz, referindo-se ao preconceito que em sua opinião ainda existe nesse mercado.
 
Neste ano, algumas operações no segmento já foram anunciadas, como a associação entre as corretoras Prosper e Planner, a compra da corretora Geração Futuro pela Plural Capital e a aquisição de 100% do controle da Banif Corretora de Valores e Câmbio no Brasil pela Caixa Geral de Depósitos (CGD). Desde fevereiro, a CGD já possuía 70% da corretora.
 
Fonte: Valor Econômico/ Conrado Mazzoni/ Karin Sato/ Alessandra Bellotto – 26/07/2012

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